28.5.12

marselha aos meus olhos

O avião aproxima-se de Marselha e inicia as manobras para aterrar. Espreito pela janela e pareço gostar daquilo que os meus olhos vislumbram. O avião vai perdendo metros de altitude e começo a deixar de gostar do que a minha vista alcança. Nesta altura, tento perceber se esta mudança de opinião está relacionada com a única hora de sono que marcou a noite anterior. O avião aterra, sem direito às palmas de antigamente, e chego ao aeroporto. Recolho a minha mala e deparo-me com militares equipados com metralhadoras. Neste momento, só penso no medo que me provocam, sobretudo por passarem com a arma quase a tocar na minha t-shirt. O medo passa a normalidade quando constato que há diversos grupos de militares a passear pela zona. Saio do aeroporto e sinto um calor que me parece dizer bem-vindo a Marselha. É um calor comparável a ter todas as modelos da Victoria´s Secret à minha volta a soprar-me para o pescoço.

Segue-se uma curta viagem até ao hotel. Vou observando a arquitectura e gosto do que vejo, sobretudo da marina da cidade mais antiga de França. Durante a viagem vou recordando tudo o que me foi dito sobre a cidade. É feia e não gostei de lá estar, foi o que mais ouvi. Mesmo assim, vou gostando do que vejo. Como tenho poucas horas para conhecer a cidade opto por me dedicar à zona da marina, até porque quem já visitou Marselha sabe o que descobre quando se afasta da zona que refiro. Vê-se cada vez menos franceses e ruas onde grande parte das pessoas sente insegurança. Mas nem foi isto que me fez ficar por ali. Foi mesmo a falta de tempo. O local escolhido para o almoço foi a praça Cours Honoré d´Estienne d´Orves. Ao entrar neste espaço, sinto-me bem. Gosto do que vejo. Tanto dos prédios como das pessoas que preferem as vespas como meio de transporte.

Aproximo-me do restaurante e fico feliz com a simpatia dos franceses. Não têm qualquer problema em trocar o seu idioma pelo inglês para que sejam melhor percebidos. E estes momentos são deliciosos pois os franceses a falarem inglês fazem-me lembrar os personagens da série Allo Allo. Bem tratado à mesa, fico especialmente surpreendido quando dou liberdade ao empregado para que escolha ele o vinho da refeição. Não sei se é pouco comum por aqueles lados mas o empregado ficou extremamente feliz com a liberdade que lhe dei. A comida vai chegando, as conversas vão surgindo e os copos ficando vazios. Discute-se de tudo um pouco. Fala-se dos programas de televisão que são baratos e maus. Dos caros e bons e daqueles que dão audiências loucas. Fala-se ainda de Miguel Relvas e de muitos outros temas políticos que vão muito além do nosso continente. O meu corpo está naquela mesa, os meus ouvidos também mas é só isso. De resto sou consumido pela praça que me acolhe.

Gosto dos prédios. Remodelados mas sem mudar os traços dos anos em que foram construídos. Penso, era capaz de viver aqui. Além dos prédios, não consigo ficar indiferente às pessoas que enchem a praça. São todos giros. Elas são lindas, eles não ficam atrás. Elas vestem bem. Eles também. Elas têm muito estilo. Eles igualmente. Há diferentes looks, em ambos os sexos. Resumindo, estão todos muito bem mas nota-se que não ficaram horas a produzir-se antes de ir para a rua. Nesta altura, já sou fã de Marselha.

A tarde passa. O sol conquista-me e a piscina não me liberta, dizendo que tenho que ser dela, pelo menos durante uma horinha. Assim faço e gosto desta relação curta que criei com a apetitosa água bem como com a confortável espreguiçadeira que trata bem cada traço do meu corpo que bem precisa de descansar.

O tempo passa depressa e já é hora de jantar. A escolha é a Place aux Huiles. Janto por baixo de um loft de 110m2 que está para venda. Sou tentado a ligar para o número mesmo sabendo que não tenho dinheiro para o comprar. Se já tinha gostado do almoço, ainda gosto mais do jantar. Mas antes da comida, aproveito a caminhada que vai do hotel ao restaurante. Fico encantado com a forma como os finais de tarde são vividos nos bares. Pessoas giras, taças de vinho na mão e agradáveis conversas. Dá vontade de ficar um pouco. Mas é hora de ir jantar. Novas temáticas, muitos sorrisos, diversão e comida boa mas que não mata a fome. Assim é a nouvelle cuisine. As horas parecem minutos e o jantar acaba. Em vez de regressar ao hotel, vou dar uma volta com um amigo. Quero espreitar a noite de Marselha.

Muitos bares, muita gente gira e bem vestida e muita simpatia. Constato que se me afasto do centro, e refiro-me a apenas alguns metros, entro noutro mundo. No mundo dos bares onde as mulheres estão à porta a tentar convencer os homens a entrar. É um pouco estranho mas não há qualquer sinal de insegurança. Continuo a caminhar até que me deparo com um aglomerado de pessoas numa praça de grande dimensões. Para meu espanto, é tudo por causa de um bar de dimensões mínimas. Polikarpov, é o nome do bar. Para terem uma ideia, imaginem o Bairro Alto concentrado à porta de um bar. Assim é o Polikarpov. Uns dançam em cima das mesas da esplanada. Outros gritam as músicas que o dj de serviço vai cantando. Uns fumam substâncias legais, outros optam pelas ilegais que dão um cheiro característico à zona. Mais uma vez, há todos os estilos de looks que possam imaginar. Desde a mulher que vai à semana da moda em Paris até ao freak que tem as calças rasgadas. Todos se misturam na perfeição e vivem em harmonia. Observo aquele ambiente e começo a fazer o percurso de regresso ao hotel. Antes, paro num bar onde a música não toca alto mas onde vale a pena ficar um pouco. Bebo um copo, troco dois dedos de conversa e fico maravilhado com as pessoas que me rodeiam. Chego ao hotel e começo a pensar no dia Sophia Loren.

Assim foram passadas as minhas (poucas) horas na cidade de Marselha. Gostei e era capaz de lá voltar para alguns dias de férias. Provavelmente não mais de que uma semana, mas voltava… ou voltarei.

2 comentários:

  1. Finalmente, um portugês a dizer bem dos franceses e a admitir que são simpáticos, educados, hospitaleiros, bem apresentados. Que não são uns simples burros e porcos que teimam em falar unicamente a língua deles sem se preocuparem se são entendidos ou não. Muito obrigada! Agora essa de terem graça, quando falam inglês... faz-me lembrar por que razão, desde que estou em Portugal, me acanho quando se proporciona falar inglês :)

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    1. Não tens que agradecer. Estou a ser sincero até porque não falo mal só pelo prazer de falar mal. Mesmo que tivesse encontrado alguém como referes, isso não mudaria a ideia geral com que voltei. Volto a dizer, pessoas lindas, bem vestidas e simpáticas. Quanto ao Allo Allo, não é uma crítica. É uma simpática constatação que me fez sorrir e muito quando falavam inglês :)

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