16.10.12

o mítico nº2


O nº2, no que a uma casa-de-banho diz respeito, é assunto tabu para muita gente. Raramente é tema de conversa e, quando ocasionalmente (e em tom de brincadeira) é falado entre amigos, cerca de 90% das pessoas assume, de pronto, que nunca fez o nº2 fora de casa. Seja isso verdade ou mentira.

Devido à natural complexidade do tema, é normal que seja complicado falar/brincar com o mesmo, sem perder a classe e cair na brejeirice. Fazendo um exercício de memória, recordo-me de duas ocasiões em que o tema foi retratado com brilhantismo. A primeira, na saudosa série Seinfeld e, mais recentemente, em Foi Assim que Aconteceu, onde Marshall passa um episódio a falar sobre os olhares reprovadores dos colegas quando se dirige para a casa-de-banho com uma revista na mão.

O problema de Marshall é facilmente resolvido com o livro How to Poop at Work, que descobri este fim-de-semana. Escrito por Brian Moylan, esta obra literária versa sobre a temática exposta na capa. Sobre a melhor forma de fazer o mítico número dois num escritório partilhado com muitos outros colegas. É que, segundo o livro, por mais controlo que exista, mais cedo ou mais tarde é algo que acontece a todos nós.

De uma forma divertida, How to Poop at Work revela algumas dicas essenciais para quem quer passar despercebido num momento pessoal e constrangedor. A primeira é conhecer o território. Se o escritório tiver apenas um compartimento é algo positivo no que à privacidade diz respeito. Por outro lado, no que a gases diz respeito, torna-se impossível atribuir a culpa a um colega, algo fácil numa casa-de-banho com diversos compartimentos. Quando se trabalha num local onde o wc é partilhado por clientes e trabalhadores, existe uma regra de ouro: nunca ser visto quando se frequenta o local. Porquê? Porque assim, ninguém altera a imagem profissional sobre a pessoa.

A segunda regra é conhecer aquilo a que a obra se refere como trono. Por outras palavras, conhecer a sanita. A regra seguinte está relacionada com a porta. Certifique-se, pelo menos duas vezes que está trancada. Esta medida evita uma possível destruição da carreira. Outra regra a ter em conta: não ter medo nem rodeios em usar a casa-de-banho. Esta é para aquelas pessoas que preferem “fugir” do local de trabalho na hora de usar o wc. Esta opção garante o anonimato mas implica, provavelmente, o uso de um wc em piores condições higiénicas. Aqui pode ser utilizado um pequeno truque. Usar o wc de outro andar ou departamento. O que pode ser visto igualmente como uma pequena vingança para aqueles colegas de quem não se gosta.

Segue-se um erro que nunca pode ser cometido. Ir à casa-de-banho com um livro ou revista debaixo do braço. Se a pessoa não trabalha numa livraria, está claramente a revelar aos colegas o que vai acontecer nos próximos minutos. Aqui, há igualmente um truque que pode ser usado. Levar o telemóvel escondido no bolso. Este, pode ser o álibi perfeito se acontecer uma espécie de guerra no wc. O telemóvel será a prova de que não estava na casa-de-banho pois aquela hora estava a enviar emails. As pessoas devem lembrar-se que não estão em casa. Ou seja, meia hora fechado na casa-de-banho não é a melhor opção. Mais tempo no wc aumenta a probabilidade de ser apanhado e visto com outros olhos. Como seria de esperar, o livro guardou espaço para o clássico amigo, o fósforo. Passa despercebido e é o salvador de qualquer casa-de-banho.

Além destas, existem ainda mais algumas regras de ouro. Não falar com ninguém que esteja fora do compartimento (esta regra só pode ser quebrada se não houver papel higiénico) e sair estrategicamente do wc. Se está a sair e um colega a entrar, nunca pode ser mencionada a verdade. Existem boas desculpas que evitam confusões: “Não há papel higiénico” e “a pessoas que veio antes de mim entupiu a sanita” são as clássicas. Todos sabemos que são mentiras mas a aparência mantém-se.

Como referi, este tema é complexo. Confesso que pensei várias vezes se estaria a ser brejeiro ao publicar este texto, que esteve muito próximo de não passar de um rascunho apenas lido por mim. Mesmo assim, e correndo riscos, decidi partilha-lo por entender que este livro, aborda de uma forma divertida uma temática comum a todas as pessoas. Quem nunca olhou de lado para um colega que abandonou a casa-de-banho, deixando a mesma em péssimas condições? Quem nunca brincou com este tema? Além disso, acho que este livro é daqueles que podem ser oferecidos em género de brincadeira. É divertido, ninguém leva a mal e faz um brilharete nas trocas de prendas entre amigos.

31 comentários:

  1. Muito bom! Ainda estou para descobrir a técnica em wc que as laterais não chegam até ao chão ... isto do modernismo é constrangedor a todos os níveis, desde sonoros e outros. Dicas?

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    1. Nessas alturas dá para reconhecer as pessoas pelo calçado :)

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  2. Vi esse episódio do Foi Assim que Aconteceu.

    Tu tens a solução para todo e qualquer problema :)

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  3. É um tema duvidoso, mas nada de brejeiro ou ofensivo;) Acontece que há pessoas que não fazem o nº 2, nem sofrem de flatulência porque são princesas e príncipes:) é constrangedor só porque foi criado um mito à volta disso:)

    Bom texto;)

    Beijinhos

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  4. Em casa, em casa e em casa! E para mim ir de férias é um 'martírio' e tenho dito :p

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  5. O que já me fizeste rir. para não variar adorei esse episódio do How i met your mother...tadinho do Marshall, deu-me uma pena:) o meu colega de trabalho a seguir ao almoço lá vai com o jornalzinho :)

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    1. Tal como com o Marshall, quem usa jornal diz logo o que está a acontecer :)

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  6. ...tb tive um chefe que levava o jornaleco...
    A mim nada disso me aflige desde que deixem o WC em condições da proxima utilização!

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  7. Todos os dias, mal chego ao trabalho arranco logo para o wc, não percebo mas gosto. Os meus colegas já nem ligam. Jlugo que a nossa indiferença é a melhor arma, o constrangimento só alimenta mais o escárnio/repugnância.
    A bem dizer. Seria bom cagar todos os dias, duas vezes.

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  8. que belo post :P já me fartei de rir.

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  9. Está muito bom!

    Só te esqueceste de referir que, assim que se sai do WC, e pelo facto da probabilidade de ser visto ser muito grande, deve deixar-se o sanitário limpo e a brilhar. O que nem sempre é verdade, principalmente quando se fala no sexo masculino. Senão, é que a carreira não tem mesmo futuro.
    :)

    http://mefrancesca.blogspot.com

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  10. Há quem não consiga fazê-lo em locais públicos, embora ninguém se livre de uma dor de barriga daquelas!
    E há quem não tenha problema algum com o n.º 2.
    Não consigo perceber é uma coisa: pessoas que o fazem mas que aproveitam para "fazer incenso"... Custa muito puxar o autoclismo no imediato?

    ***

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  11. No meu trabalho não é à toa que a casa de banho dos meninos é chamada de biblioteca...
    - Onde esta o XPTO ?
    - Está na biblioteca chefe.
    Resumindo o melhor é que eles têm uma casa de banho para eles e as meninas uma só para nós, sem limpinha.

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    1. Eu costumo chamar Walter Costa mas biblioteca é muito melhor :)

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  12. Nunca tinha ouvido essa expressão "mítico nº2"...

    Muito engraçado o post.:)

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  13. Quando se tem um emprego como o meu esses pudores não nos passam pela cabeça... É uma necessidade básica! Às vezes até agradecia que os utentes fossem um bocadinho mais contidos com as descrições sobre os respectivos cocós :) Eu não preciso de saber os pormenores ahahah

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    1. Não, sou farmacêutica. Trabalho numa farmácia e há dias com histórias engraçadas... :)

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