apenas vergonha #3

Nem só de telemóveis e mensagens para destinatários errados são feitos os meus momentos de vergonha. Também sou rapaz para passar alguns momentos embaraçosos em diversos locais. Como no ginásio.

Actualmente tenho um esquema de treino dividido em dois planos diferentes. Um deles obriga-me a conviver com elevações feitas numa barra que está perto do tecto.

"F. Diz aqui para fazer elevações na barra. São quantas?", pergunto.

"As que conseguires", responde-me.

"Como isto diz elevações, presumo que exija plural. Posso fazer só duas?", insisto

(O ideal era fazer dez de seguida)

Esta minha resposta é o primeiro momento de vergonha. Na realidade, não consigo fazer mais do que duas elevações de seguida.

Com pena de mim, o F. diz que posso fazer as restantes oito, uma de cada vez, descansando entre elas. E que até posso pular. (Mais uma dose de vergonha).

Quando faço isto vivo o terceiro momento de vergonha. Elas olham para mim com um olhar que diz: "um rapaz daquele tamanho e só faz duas." Por sua vez, o olhar deles diz somente isto: "fraquinho."

Lá explico ao F. que a minha força de braços é reduzida (não escrevo nula por vergonha). Ele olha para mim com aquele olhar de compaixão que se tem por um animal abandonado e diz-me: "não é a força que interessa neste exercício."

Eu finjo que acredito. Mas, na verdade... é apenas vergonha que sinto. E a culpa é da barra! Ainda te vou raptar e esconder. Malvada.



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