2.4.13

agora escrevo eu #9


Está de volta a partilha das palavras e dos textos que me têm feito chegar para esta rubrica. Hoje, é a vez do diácono (é um orgulho tratar-te assim) Paulo Duarte que escolheu abordar a normalidade, ou aquilo que as pessoas tendem a aceitar e/ou acreditar como normal. Acho que este testemunho é um belo ponto de partida para um tema que facilmente se transforma em horas de conversa. E para isso, basta perguntar: “O que é isto da normalidade?”


“Acho piada quando as pessoas me dizem que sou normal. Normalmente são pessoas que formulam a tal “normalidade” depois de umas quantas frases trocadas, eventualmente num jantar, ou numa das ruas do Bairro Alto ou durante a movida madrileña (estou a estudar em Madrid). Nada de especial com isto, não fosse o isto de ser jesuíta e daqui a pouco mais de um ano vir a ser padre.

De vez em quando lá me pergunto: o que é isto da normalidade? Sim, cumprir normas, estar estabelecido num determinado padrão. O que descansa bastante. O raro, o esquisito e o diferente por vezes causa medo e desconforto. Ou, então, simplesmente abre portas de histórias passadas que levam à última imagem que se ficou de algum acontecimento menos simpático. A normalidade é o decorrente do conforto. No entanto, o desafio está em conhecer algo ou alguém que não cumpre todos os padrões estabelecidos, mesmo aqueles de uma sociedade dita “aberta” e que tudo aceita. O trabalho da “abertura”, por outras palavras, da liberdade, passa mesmo pelo acolhimento, pela escuta da outra pessoa que sai da “normalidade”, sendo, curiosamente, “normal”.

É uma confusão. Talvez... É que isto de vir a ser padre e ser considerado uma pessoa normal é mesmo isso, confuso. Tenho-me apercebido que quando sou apresentado desde início como jesuíta, grande parte das vezes há reacções, sobretudo faciais, do género: “Ui, cuidado com este!”, como se a minha fisionomia mudasse e todo eu me tornasse um inquisidor da “moralidade e bons costumes”. Oh, não... eu sou normal. Se aparecesse um inquisidor na minha vida, Oops, estava feito... o que me vale é que o tal Senhor que admiro e me fascina ensinou isso mesmo: acolher, acolher e acolher, para além da etiqueta da normalidade. Sei, por experiência própria, que o acolhimento pode ajudar a abrir horizontes... até mesmo da fé. O que é isso da fé? É mais normal do que se pensa... mas isso fica para outra conversa, quem sabe, num jantar ou numa das ruas do Bairro.”

26 comentários:

  1. Paulo, Paulo...tu és tudo menos normal, és no minimo, um ser humano muito especial. Quiseram as coincidências que não existem nesta vida que as nossas vidas se cruzassem por duas vezes, em dois momentos tão diferentes e ao passar por ti segunda vez, tive a certeza absoluta que não era por acaso. Não Paulo, não és normal, porque o impacto que a tua presença e as tuas palavras causam nas nossas vidas, não é normal.
    Obrigada por seres quem és, como és e por me teres dado o privilágio de passares pela minha vida.
    Que Deus continue a iluminar a tua vida e que tu continues a acolher e a partilhar connosco.

    Jinhos

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    1. Oh Suricate, obrigado! Nem sei que dizer, a não ser, simplesmente isto: obrigado! Sim, o nosso cruzamento de vidas é mesmo digno de registo... e de memória. Obrigado também a ti por seres quem és e ajudares, com o teu modo de ser, que o mundo seja um pouco melhor.

      Beijinhos, com amizade. :)

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  2. é tão difícil definir um ser como normal ou não, cada um tem uma normalidade definida para si! Para mim somos todos normais há nossa maneira!

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    1. Mais do que uma "normalidade à nossa maneira", há o que se chama personalidade... ou individualidade. Depois, há o conjunto, o comunitário, que se rege por padrões. Por isso digo: normal, normal, é o que sabe acolher a diferença com respeito. :)

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    1. Sim, tem uma certa lógica essa "não normalidade" do conceito "normal". ;)

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  4. Caro Paulo , que Deus o abencoe nessa linda forma de vida que escolheu, para acolher os outros .A normalidade deve existir na nossa cabeca e nos nossos coracoes. Desde que não facamos mal a ninguem , que sejemos todos normais ou não! Na Vida tenho percebido que quem mais condena , mais tem que se lhe aponte! Bjinhos. Maria em aqueceraalma blogspot

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  5. Gostei tanto deste texto :) é bom lembrar de vez em quando o que está subjacente à fé. Parece-me que o Paulo será aquilo que espero (sempre) ver naqueles que se entregam a Deus desta forma : "o acolhimento pode ajudar a abrir horizontes... até mesmo da fé."
    (nota: eu não católica e não crente me confesso)

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    1. 3Picuinhas, obrigado!
      Tento mesmo viver dessa forma... com as imperfeições de caminho (graças a Deus), pois ajudam-me a pôr no lugar quando a soberbia também desponta, mas tento mesmo viver assim. Aliás, se assim não for acho que a minha vocação não teria sentido. Tem que ver com o que escrevi precisamente hoje no meu blogue, sobre a capacidade de pensar que ajuda a ser livre. Há tanto a aprender... :)
      Será que "num jantar ou numa das ruas do Bairro" nos juntamos para falar dessa coisa que é a (des)crença? ;)

      Um Abraço!! :)

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    2. Gostava muito :) fazem-me falta conversas com sentido e com conteúdo, fazem-me falta olhares diferentes. Acho que só se consegue ir além ouvindo e falando com quem pensa diferente de nós. Mas, sabe, acho a minha "fé", aquilo que me alimenta, aquilo que me faz querer ser melhor, no fundo não será muito diferente daquilo que o levou a descobrir a sua vocação, por isso sim, um dia destes encontramo-nos por aí.

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    3. Estes momentos fazem com que me sinta bem por ter um blogue :)

      Obrigado

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  6. Somos todos normais e todos anormais. É no mesmo sentido de todos iguais e todos diferentes. Dificilmente se chega a uma definição.
    Adorei o texto. Parabéns! :)

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    1. lilipat,

      Obrigado!!! :)
      Sabia que por detrás do sentido "todos iguais, todos diferentes" esteve um jesuíta? Vivi com ele dois anos. Agora, já está a viver a diferença plena, junto com a igualdade plena. :)

      Um Abraço!!

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    2. A sério Paulo? Não fazia ideia. É uma frase muito verdadeira e muito bonita. :)

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  7. hsb,

    Não posso deixar de sorrir com o teu "orgulho". Fico mesmo feliz pela publicação, obrigado. Acho que se aprende tanto com partilhas distintas e, dizer-te que, ter aqui neste blogue um texto meu é uma honra. Obrigado de coração!

    Já lá vão pouco mais de 15 dias desde a ordenação, mas quando me chama de diácono lembro-me sempre do diácono Remédios. E, claro, lá me ponho eu (agora com legítima autoridade ;) ), "Oh meuzzz amigos zzz zzz zz, ai o pecado nestas escritas profanas... zz zzz zzz".

    Um Grande Abraço!! :)

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    1. Obrigado eu Paulo. É um orgulho ter-me cruzado contigo neste mundo.

      Tens razão. Falar de diácono é recordar no imediato a personagem de Herman José :)

      Grande abraço

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  8. 'Sei, por experiência própria, que o acolhimento pode ajudar a abrir horizontes... até mesmo da fé.'

    Pode fazê-lo muitas e muitas vezes..! Concordo absolutamente.
    E muito bom este texto, aliás, como lhe é proverbial. E gosto muito especialmente do humor tão necessário à Vida.
    Obrigado Diácono Paulo.. muito obrigado, Paulo. Um abraço Amigo!(:

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    1. Dulce, muito obrigado!
      Ai, o humor necessário para aliviar tantas tensões desnecessárias. :)

      Um Abraço amigo! :)

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Adorei o seu texto e a forma como o escreveu.
    Comecei a seguir o seu blogue desde que começou a escrever neste espaço que o hsb abriu e nos deu a palavra, a partilha.

    "Sei, por experiência própria, que o acolhimento pode ajudar a abrir horizontes... até mesmo da fé." Eu encontrei-a com Deus, em momentos muito complicados da vida e os que vivo hoje. Quando estou triste, em baixo, a chorar há uma pessoa que não se esquece de mim e eu D'Ele. Rezo e acalma-me...

    Obrigada pela partilha.

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    1. G., Muito Obrigado!!
      Sim, este espaço "hsb" é mesmo um espaço de encontro e partilha, com aquele ar fresco que tanto ajuda.

      Fico com um grande sorriso ao saber desse Encontro... e dos que se sucedem quando reza. É que é mesmo isso que acontece.

      Deixo-lhe um abraço e obrigado também pelas visitas lá pel'o.insecto. :)

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    2. Felizmente tive esse momento e tenho outros mais, no meu canto. Todos os dias há sempre uma palavra a dizer-Lhe antes de me deitar. Agradecer, rezar e ajuda nesta luta que vivo por emprego.

      Mas descobri o caminho. :)

      Faço visitas pel'o.insecto e pelo facebook. :)

      Beijinho amigo. :)

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  11. Este comentário foi removido pelo autor.

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