1.8.13

a culpa é sempre do jornalista

Sou jornalista há alguns anos. Os suficientes para já ter presenciado muitos casos como o do Cristina Espírito Santo e a sua já célebre frase "é como brincar aos pobrezinhos" no que diz respeito às férias na Comporta. Neste caso específico não sei se a culpa é do jornalista. O que sei é que é complicado tirar do contexto estas palavras. O que também sei é que o jornalista é sempre o elo mais fraco. Até porque, na grande maioria dos casos são anónimos que dão eco à voz de famosos. É muito mais fácil acreditar em alguém conhecido que jura que não disse tais palavras ou que não pretendeu dar aquele sentido às mesmas do que num jornalista que passou para papel uma conversa.

Sou jornalista há tempo suficiente para saber que existem jornalistas mentirosos. Que inventam histórias e fontes. Que gravam conversas sem cumprir a regra básica que passa por informar que o diálogo será gravado para ser utilizado num artigo. Jornalistas que muitas vezes nem se apresentam como jornalistas e que não olham a meios para conseguir mais uma capa para a publicação em que trabalham. É um exemplo do vale tudo.

Felizmente, estes ainda são uma minoria. A maior parte cumpre o código deontológico. E passa para papel aquilo que realmente foi dito. Depois, cada jornalista sabe a forma como trata os seus textos. Existem aqueles que escrevem, letra por letra, aquilo que foi dito por um entrevistado. Sem se preocuparem com a imagem que essas pessoas vão ter quando o texto for publicado. Se podem ser culpadas por isso? Do meu ponto de vista, não. Fizeram perguntas às quais as pessoas responderam como acharam melhor.

No meu caso, posso dizer que tenho cuidado com as palavras que me dizem. E que até já cortei algumas porque certas pessoas disseram coisas pouco ou nada abonatórias em relação à sua inteligência. Mas isto é um capricho meu. Algo pessoal que não tem de ser regra geral.

Quanto ao descontextualizar palavras. É algo muito fácil de fazer, em determinados casos. Mas que, julgo eu, não dá o menor prazer a um jornalista que assina um texto. Isso é o mesmo que ter orgulho em ser mau profissional.

Felizmente, nunca me vi envolvido num caso destes em que alguém nega ter dito aquilo que está publicado ou em que alguém desmente o sentido da conversa. Se isso vier a acontecer, o caminho é só um. Divulgar a gravação da conversa para ver quem tem razão. E esta é a melhor defesa que qualquer jornalista pode ter.

Enviado do meu iPhone

17 comentários:

  1. Como em qualquer profissão, há bons e maus.

    Em relação à "famosa" frase, seja qual seja o contexto, é infeliz.

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  2. O que há mais por aí é jornalismo a deturpar a verdade. Basta olhar para muitos títulos de reportagens, vai-se a ler o conteúdo e afinal não é bem assim.
    Não li a reportagem completa nem conheço a senhora. Ela não nega que tenha sido infeliz e já pediu desculpa. Mas diz que o sentido foi deturpado, coisa que também não me custa a crer. Os jornalistas, a menos que estejam a fazer um artigo de opinião, deviam limitar-se a relatar factos. Ao invés cozinham as frases de maneira a que a coisa fique vendável. Chamo a isso desonestidade intelectual.

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    1. Mas bons e maus profissionais existem em qualquer lado.
      De qualquer forma, creio (e agradeço que o HSB, enquanto jornalista, me possa esclarecer) que a culpa dos jogos de palavras (sobretudo nas chamadas de capa) têm o dedo dos chefes de redacção...

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    2. Pipoca, não sei se conheces o funcionamento de alguma redacção. Existem jornalistas com vaidade naquilo a que chamas desonestidade intelectual. Outros que a abominam por completo. Neste caso, não percebo em que contexto é que a frase deixa de ser ridícula. Somente numa piada que não fazia parte da entrevista. Ou num diálogo entre pessoas muito ricas que realmente sintam aquilo.

      Quanto às redacções, em casos normais, um jornalista responde a um editor, chefe de redacção e um director. Ou seja, só aqui, tens três pessoas com poder para alterar um título ou mesmo partes do texto. Depois, capas e chamadas de capa não são feitas pelos jornalistas. Aliás, estes até podem desconhecer a capa até ao momento em que chega às bancas.

      Dizes que os jornalistas devem relatar factos. Se, neste caso, a entrevistada tiver dito aquilo de forma séria, acho que o jornalista cumpriu o seu papel ao escrever o que escreveu.

      E, volto a dizer, revelar a gravação era a solução ideal. Há pouco tempo, Michael Douglas revelou que tinha apanhado cancro devido a sexo oral. Disse-o numa entrevista. Quando esta foi publicada, chamou mentiroso ao jornalista. A publicação revelou o som da conversa e afinal não havia mentira nenhuma.

      Há maus jornalistas. Como há maus médicos, mecânicos, padeiros e jardineiros.

      Espero ter-me explicado bem Pipoca e Roger.

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  3. Pelos vistos há quem se orgulhe de ser mau jornalista.

    http://barreiradesombra.blogs.sapo.pt/519201.html

    Não falo do tema, claro, mas do tratamento jornalistico que o senhor do i deu à coisa.

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    1. Infelizmente, conheço jornalistas que sentem orgulho no mau profissionalismo.

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  4. Em todas as profissões há bons e maus profissionais. A culpa acho que é principalmente da nossa língua que é muito rica e permite os duplos sentidos das palavras e frases. E aí os jornalistas tendem a aproveitar isso. Pelo menos em publicações mais sensacionalistas.
    Beijinho

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    1. Sinceramente, acho que há pessoas que não pensam quando dão uma entrevista. Falam como se tivessem a falar com o amigo do café sem pensar que aquilo será lido por milhares de pessoas.

      beijos

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  5. Concordo em absoluto com o que escreveste!
    Quanto a mim usar o gravador é mesmo a melhor solução.
    xx

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    1. Pessoalmente, gravo tudo. E há conversas que opto por manter guardadas durante algum tempo. É a única defesa que tenho.

      xx

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  6. Isto dito assim de uma forma genérica parece justo e certo e correcto e isso...mas há os editores, os chefes de redacção, e os directores que editam, cortam, escrutinam e decidem muitas vezes o destino da peça...não vou falar das audiências nem da pressão porque estamos todos cansados de bater na mesma tecla.
    Sinceramente não acredito que tenha acontecido qualquer "descontextualização"neste caso. A senhora disse o que disse, ponto. Obviamente, tendo em conta que sendo representante do clã espírito Santo, o que diz tem o seu peso. O jornalista sabe disse, ela devia saber. O jornalista sabe que esta frase, dita por esta senhora, neste contexto, é notícia. E é.

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    1. Perfeito. E acrescento que uma senhora como ela deveria medir muito bem as suas palavras. O pior é que em alguns casos preocupam-se mais como o resultado final da foto do que com as palavras que dizem.

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  7. Nao vejo qual o problema do que a senhora disse ( descontextualizado ou nao ). A verdade é que ela vive á sombra dos papás que têm uma vasta fortuna que lhes permite passarem ferias nos maiores paraisos que se possa imaginar, logo entendo que ir para a Comporta seja em comparaçao um sitio mais fraquinho.

    O que acho cinico é ela vir-se retratar apenas pq as pessoas que têm menos posses se revoltaram...Por amor da santa!

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