23.9.13

cambada de queixinhas

O futebol profissional vive de uma crise de memória e défice de atenção que, por norma, atinge os treinadores dos clubes de maior relevo. Quase sempre, sem excepção. Estas lacunas ao nível da memória fazem com que muitos destes treinadores assumam momentaneamente papéis ridículos que em nada favorecem a sua imagem e o próprio desporto.

Este fim-de-semana o circo (que é como quem diz o campeonato) pegou fogo. E tudo partiu de declarações de Jorge Jesus, treinador do Benfica. Questionado sobre o favorecimento dos adversários directos do clube, o treinador do Benfica deu a sua opinião, dizendo que realmente os outros clubes tinham sido favorecidos nos jogos anteriores. Para José Mourinho, trata-se de um mind game. Para os treinadores dos clubes visados, que perderam pontos nesta jornada, foi uma forma de pressionar os árbitros. Quanto a mim, foi apenas mais um episódio de um filme visto vezes sem conta e em diferentes cores. Basta recordar a estratégia do Porto, ou melhor, de Vítor Pereira (já assumida pelo próprio) de fazer algo semelhante quando o Benfica estava isolado na liderança do campeonato.

Ontem, Paulo Fonseca, um treinador que aprecio bastante e a quem prevejo um grande futuro, fez uma figura ridícula. Depois de empatar com o Estoril, culpou Jorge Jesus. Aliás, até culpou o treinador do Benfica por causa do empate do Sporting. É certo que a grande penalidade a favor do Estoril é cerca de um metro fora da grande área. Mas, não é menos verdade que uns minutos antes ficou por assinalar uma falta que levaria à expulsão de um jogador do Porto. Mais, quando o Porto ganhava 2-1, Varela, a cerca de três metros da baliza e apenas com o guarda-redes pela frente atirou a bola para a Baía de Cascais. Será que foi Jorge Jesus que agarrou a perna do jogador?

Como o futebol tem memória curta, convém recordar que o Porto foi beneficiado em Setúbal, num jogo extremamente complicado para os azuis e brancos. No final desse jogo, José Mota, treinador dos sadinos queixou-se do árbitro. O que fez Paulo Fonseca? Riu-se. E chamou queixinhas a José Mota, dizendo que passa a vida a lamentar-se quando perde. Por esta ordem de ideias, o que terá sido ontem Paulo Fonseca? Mais um queixinhas no meio desta grande cambada de queixinhas?

Felizmente, ainda existem bons exemplos. Leonardo Jardim, depois do empate do Sporting optou por não se queixar do trabalho do árbitro. É verdade que ficou por assinalar, a favor do Sporting, uma grande penalidade do tamanho da lua, mas não é menos verdade que o Sporting foi beneficiado em jogos anteriores. Como tal, o madeirense disse que seria uma “hipocrisia” queixar-se, até porque os grandes são sempre mais beneficiados do que os pequenos. O exemplo é ainda de maior destaque quando vem dos pequenos. Marco Silva, treinador do Estoril foi convidado a analisar o trabalho do árbitro no final do jogo contra o Porto. Mas recusou faze-lo. Deixando bem claro que não fala de árbitros. Nem quando é beneficiado nem quando é prejudicado.

Do meu ponto de vista, a postura mais adequada é não falar sobre os árbitros. Nunca. Ou falar. Sempre. E ter a coragem de assumir os benefícios, quando eles acontecem. Sendo que não aceito o meio termo. Por outro lado, quem o faz é porque adora mind games. E isso, é algo que nem todos sabem fazer. Existem alguns mestres, como Mourinho mas a maioria não sabe lidar com este tipo de picardias que servem apenas para enervar os treinadores dos outros clubes. Quando aos árbitros, na generalidade, em Portugal, são maus demais. Erram. Depois tentam compensar os erros com outros erros enquanto se enterram no lodo.

O futebol vive de golos. De dribles fantásticos. De hat-tricks. De livres directos. De jogadas estudadas. De batalhas tácticas entre grandes clubes. De aplausos. De gritos. O resto (que se aplica a todos os clubes) , é dispensável e serve apenas para alimentar conversas de café, vender jornais desportivos e colocar mais três ou quatro comentadores aos gritos nos debates televisivos.  

18 comentários:

  1. Sim, tens razão, este fim-de-semana o campeonato parecia um circo!
    Convém relembrar que o Paulo Fonseca o ano passado não se queixou da arbitragem no último Paços-Porto, onde o Porto foi escandalosamente favorecido!
    E o homem era treinador do Paços!

    É mesmo uma questão de falta de memória!

    Abraço

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    1. Curiosamente, nesse jogo o Paços é roubado com uma falta fora da área transformada em grande penalidade e expulsão. Curiosamente, no final do jogo o Paulo Fonseca nada disse sobre o lance. Coincidência?

      Abraço

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  2. Ainda não decidi o que sinto em relação ao Paulo Fonseca... Mas que TUDO neste fim de semana foi uma palhaçada, isso é certinho!

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    1. Se calhar é melhor não gostares muito dele desde já, pimpolha. É que este ano vamos ganhar o campeonato na primeira ronda.

      [Não resisto...]

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    2. Lia, não é uma palhaçada o Sporting empatar com o Benfica com um golo fora de jogo e com uma grande penalidade a favor do Benfica por assinalar? Ou a palhaçada é só quando acontece no nosso quintal?

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    3. HSB, pensei que tivesse ficado claro no meu comentário que estava a falar do fim de semana que passou... com certeza não te esqueceste (e já que estamos a falar de passado) do jogo SCP - Capela, pois não? Então, por favor... não vamos falar de golos em fora de jogo e de penaltis por marcar :)

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    4. Os grandes são sempre mais favorecidos. E a postura tem de ser a mesma quando somos beneficiados e quando somos prejudicamos. Não podemos ser uns coitadinhos quando é contra nós e assobiar para o lado quando é a nosso favor :)

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  3. É certo que os erros acontecem. Com frequência, para todos os lados. Também é certo que a incompetência corre ligeira pelos nossos árbitros: ou fazem de propósito e são maus por isso, ou não fazem de propósito e tornam-se maus pelas compensações sem sentido para a equipa que acabaram de prejudicar. Mas há erros e erros. E parece-me que há coisas que prejudicam mais do que outras. Eu, pessoalmente, preferia ver a minha equipa jogar com dez do que sofrer um penalty. É que a probabilidade de sofrermos um golo é infinitamente maior quando é marcada falta para grande penalidade. Mas admito que é a minha óptica, cada um tem a sua.

    O que pensei que tinha saído claro para todos, é que o José Mota não acertou uma, quando apontou motivos para se queixar de ter sido prejudicado contra o Porto. Em que é que o Porto saiu beneficiado? Relembra-me por favor, HSB...

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    1. ABT, se não tiveres memória curta como o Paulo Fonseca tens de te lembrar do jogo Paços de Ferreira - Porto da época passada. Um lance fora da área foi transformado em expulsão e em grande penalidade. O vosso treinador, então no Paços, ficou caladinho, como se nada fosse. Agora vem queixar-se?

      Não se trata do que achas pessoalmente. O Porto foi muito prejudicado num lance. O Estoril foi muito prejudicado num lance anterior. É simples. Tal como o Paços foi muito prejudicado no golo do Jackson este ano. Basta analisar esquecendo a cor da nossa camisola. A verdade é uma. Os grandes são sempre mais beneficiados. E aqui, concordo contigo. Uns mais do que outros...

      Em relação ao Mota. Queixou-se da grande penalidade e da expulsão do jogador. E o Paulo Fonseca riu-se na cara do homem, chamando-lhe queixinhas. Afinal, ele também parece ser queixinhas. Ou não?

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    2. Vamos mesmo puxar pela memória até à época passada? Não é questão de ter memória curta, só é uma perda de energia: já não conta.

      Além disso, o que o Paulo Fonseca acha relevante o suficiente para comentar é-me sinceramente indiferente. O que me tocou -- porque quem não se sente não é filho de boa gente ;) -- é teres chamado "benefício" ao facto do Porto não ter sido prejudicado contra o Setubal, apesar do Mota achar que isso sim seria genial. É que na minha TV foi penalty sobre o jogador do FCP, e o guarda-redes sadino pediu para ser expulso depois da cabeçada e teatro de má qualidade que se seguiu. Portanto, o árbitro não fez mais do que lhe competia.

      [A propósito: o Mota e o Paulo Fonseca têm historial de picardias, não começou quando o P. Fonseca se tornou treinador do FCP.]

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    3. É pena que o passado não conte quando não dá jeito. E trata-se de uma passado recente. Que curiosamente é uma cópia exacta do que se viu na Amoreira.

      Se achas que o Paulo Fonseca esteve bem, nada tenho a acrescentar. Só lamento que não assuma os lances em que é favorecido.

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    4. A que cópia exacta do passado recente te referes, que tenha levado o Porto a beneficiar de marcar um golo em fora de jogo e um segundo golo de penalty um metro fora da área?

      O passado futebolístico conta muito pouco para mim, sempre, não é só quando me dá jeito. Todas as épocas há motivo para debate; trazer assuntos velhos e encerrados à discussão só serve para aumentar a fogueira e desviar a atenção daquilo que inicialmente se conversava. Se assim não fosse, ainda hoje estaria a falar do último campeonato do SLB que foi ganho à custa de castigos exemplares que neste país só se aplicarem a jogadores do FCP. Mais concretamente ao Hulk (e companhia) que ficou afastado meio campeonato à custa de um episódio que ninguém viu. Mas toda a gente viu o treinador do SLB a agredir agentes de autoridade, portanto estou muito curiosa por saber quanto tempo vai ficar fora do banco benfiquista. (Vês a potencialidade de se buscarem assuntos velhos...? Cá estamos nós a aumentar a fogueira.)

      Também não leste em comentário algum a minha aprovação ao que o Paulo Fonseca fez ou disse, ao contrário do que sugeres. Simplesmente porque não me interessa o que é falado, interessam-me os jogos de futebol. O falatório é pouco original e entediante. Mas objectivamente, concordo que é pouco coerente que se comente apenas quando a bota aperta, ainda que não me surpreenda que assim seja: só nos queixamos quando dói. Se o comentário ao trabalho do árbitro fosse obrigatório a treinadores e jogadores que se dirigem à zona mista, seria muito mais interessante. O silêncio em relação a um tópico pouco confortável é fácil, o comentário obrigatório já exige bom-senso.

      *

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  4. Não vi os jogos do Porto, nem do Benfica e o do Sporting fui dando um olhinho.
    A verdade é que os árbitros influenciam, em muito o jogo, acabam por favorecer sempre algumas equipas. E, quando os jogos são os grandes contra os pequenos, normalmente o favorecimento é sempre para o lado dos grandes.
    Quando, existe alguma situação contrária , acaba tudo a queixar-se. Concordo com o Leonardo Jardim, é uma hipocrisia criticar! o sporting tem tido jogos validados, quando os jogadores estão em fora de jogo, agora não se pode queixar por tido um penálti não marcado!(e este possível golo dava muito mais jeito!)

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    1. O Jardim tem toda a razão no que diz. Seria hipocrisia fazer queixas apenas quando se é prejudicado. E isso aplica-se a muitas pessoas, de diferentes clubes.

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  5. Subscrevo totalmente! O futebol português virou um circo, semana após semana é mais do mesmo e é recorrente a falta de coerência dos treinadores... A excepção parece ser o treinador do sporting, que realmente esteve bem nas declarações após o jogo da ultima jornada. Mas é uma pena que hoje em dia a arbitragem e as questões extra futebol tenham mais protagonismo que o jogo propriamente dito. Era bem melhor se assim não fosse.

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    1. Por isso é que temos um dos piores campeonatos da Europa com estádios sempre vazios.

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