11.9.13

parece um espeto

Acho que vivemos numa época em que as pessoas descarregam as suas frustrações, aborrecimentos, problemas e tudo mais nos outros. Que não têm qualquer relação (directa ou indirecta) com aquilo que apoquenta a pessoa em questão. Isto faz com que não exista qualquer noção da linha que separa o lógico do ilógico. O justo dos injusto. E que não se reconheça aquilo que simplesmente nos reduz ao ridículo.

Ontem, já sem tempo para ir ao ginásio, optei por correr à beira-rio ao final do dia. Como é hábito, tento convencer sempre a minha mulher a ir comigo. Mesmo que não tenha vontade de correr, faço com que tenha vontade de andar. Após a corrida, acompanho a minha mulher numa caminhada até casa. Ontem, quando me juntei a ela fiquei parvo com aquilo que me contou e que tinha acabado de acontecer.

Enquanto caminhava, a minha mulher cruzou-se com três mulheres, possivelmente mãe e duas filhas, com excesso de peso. Não refiro o excesso de peso para julgar as mulheres em questão. Faço-o porque tem toda a lógica para aquilo que aconteceu. Assim que passou por elas, ouviu o seguinte: “Olha para isto. Parece um espeto. É só ossos.” A pessoa em questão não esperou que a minha mulher se afastasse para dizer isto às outras. Falou alto, como quem tem por objectivo provocar a outra pessoa. “Estás a falar com quem?”, perguntou a minha mulher. “Estás a olhar? Olha para a frente cara***”, acrescentou.

Aquela pessoa falava como se a minha mulher tivesse culpa de ser alta e magra. Pior do que isso, como se a minha mulher fosse a culpada do excesso de peso que atinge todas as mulheres que o têm. Ser magra não dá o direito à minha mulher de gozar com quem não o é. Tal como quem não está satisfeito com o seu corpo não pode culpar quem está. Porque, a existir culpa num eventual desleixo, essa será sempre da própria pessoa. E não de todos os outros que se sentem bem com o seu corpo.

E o pior é que a mãe nem sequer disse à filha para se calar. Mesmo com o tipo de linguagem que a filha optou por usar. Se há coisas que não percebo, este tipo de episódios são exemplo disso mesmo. Mal de nós se chegar o dia em que toda a gente fala mal de alguém que têm algo que queremos ter ou de alguém que é algo que queremos ser. Até porque o problema não está nos outros. Mas em nós. E quem tem de mudar somos nós. Se queremos chegar ao patamar - seja ele qual for - dessas pessoas, temos de lutar por isso. Em vez de tentar puxar os outros para o patamar em que nos encontramos.

42 comentários:

  1. O que faz as pessoas ter esse comportamento, no meu humilde ponto de vista, é o complexo de inferioridade, a vontade de ser como o outro e na impossibilidade de o ser, criticam.... errado, muito errado... Passo muitas vezes por isso no trabalho, de um modo mais ligth, mas como fui mãe à pouco e recuperei logo o peso inicial,que nunca foi muito, levo com bocas e comentários mais irónicos de uma colega que sem filhos e a comer salada todos os dias tem bastante mais peso e uma dificuldade enorme em controlar o peso.

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  2. Cm sei o que isso é! Eu sempre fui muito magra, nunca fiz nada por isso, pelo contrário, smp quis ganhar algum peso e simplesmente o meu organismo não me permite. E sei o que é lidar com os comentários dos outros. Desengane-se quem acha que só os "gordos" são gozados e "maltratados". Alias, cheguei à conclusão que para tds é mais fácil chamar magricela a um magro que gordo a um gordo.

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    1. Normalmente as pessoas só se recordam de quem tem peso a mais mas quem tem menos também sofre.

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  3. Dor de corno, chama-se a isso dor de corno, diz a magra que sempre levou com bocas do género dessas com que brindaram a tua mulher.

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  4. Pois....tenho a sensação que hoje em dia falar mal é sempre o mais fácil , infelizmente....

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  5. Dor de cotovelo associada a falta de educação! Quantos comentários já ouvi, basicamente, mando para trás das costas!

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  6. E eu aqui venho dizer que a tua mulher não é nenhum espeto, e é até, para a altura que tem, bem jeitosa...

    A inveja sempre foi, e sempre será, um sentimento muito feio.

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  7. Tens razão. Já nao há respeito... A mim uma vez chamaram-me cadavérica, mas mesmo com ar de repugnância. Andei meses com essa palavra na cabeça e ainda hoje me lembro dela. Raiva tenho de nao ter chamado a pessoa ' gorda de merda...' Enfim!

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  8. Aliás, há pessoas magras que gostariam de não o ser e tal acusação pode ser tão ofensiva como para quem seja gorda.
    Enfim, bem-vindo à Tugalândia...

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  9. Falta de respeito e educação. Se a mãe não lhe disse nada, já se vê onde é que ela aprendeu.

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  10. Falo com a experiência de ser alta e magra, tendo também já ouvido alguns comentários menos simpáticos de outras mulheres. Quase como se ter o corpo que tenho fosse alguma espécie de afronta para com as que têm excesso de peso ou, mesmo magras, não têm formas.

    O que eu ainda me dou ao trabalho de explicar é que, além do factor genético que envolve a minha família - somos todos altos e magros - eu sempre pratiquei desporto e faço por ter uma alimentação equilibrada. Mas esta parte certas mulheres já nem querem ouvir e esse é o problema de muitas: têm uma dor de cotovelo daqui até à lua, mas também não fazem nada por elas mesmas.

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  11. Dor de corno e falta de educação rules:-p
    Dasse.. (desculpa a linguagem, mas isto hj.......:-p )

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  12. O nível e a classe são impressionantes, de facto :/

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  13. Diarreia mental é o que muitas pessoas têm!!
    Ora é maltratar as pessoas mais fortes, ora são as magras.
    Cada vez esta sociedade se guia mais pela falta de valores, inveja e julgamento das pessoas pelo que são.
    Falo pq já passei pelo mesmo, mas ao contrário.

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  14. Isso é muito mau... já passei por isso (sem a parte do ser alta)... mas acabei por fazer "ouvidos moucos"...

    E faz-me lembrar uma publicidade que havia há uns tempos (acho que da compal light) com que eu "brincava": "olha a magra!", "Olha a top-model"..."mas eu com menos calorias não consigo engoradar"

    Beijinho e boa semana...

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