31.10.13

is this love? (capítulo oito)


A chuva continuava a cair. E eles ali continuavam. Imóveis. E encharcados. Olhavam-se olhos nos olhos como se fossem as duas únicas pessoas do mundo. Apesar do mau tempo, ambos tinham um tímido sorriso estampado nos lábios. Ele continuava a agarrar as mãos dela. Enquanto aguardava pela resposta à sua pergunta. Ele sabia os erros que tinha cometido ao longo dos tempos. As más decisões em relação a ela. O medo de lutar pela única mulher que amou. E isso fazia com que não percebesse o motivo que a levava a estar ali. Perto dele. Tendo desistido da viagem.

“porque te amo. Foi o meu amor por ti que me levou a desistir da viagem”, disse-lhe ela. “Até ao momento de embarcar acreditei que irias aparecer. Mas tu não apareceste. Não te vi. E, mesmo assim decidi desistir daquilo que pensava ser o que mais queria”, acrescentou numa explicação que motivou uma nova pergunta da parte dele. “Porquê?”, perguntou mais uma vez. “Percebi que se entrasse naquele avião estaria a mudar aquilo que quero. Acredito que poderia ser feliz longe de ti. Teria de aprender a viver desse modo mas também sei que se estivesse naquele avião neste momento, ia sentir-me vazia. Ia deixar uma boa parte de mim aqui a deambular à tua procura. Ia ficar cheia de porquês a matutar na minha cabeça. E isso ia limitar o que queria fazer lá”, disse, perante o olhar atento dele.

“Mas eu não mereço nada disto. Sou...”, referiu ele, sendo rapidamente interrompido por ela, que lhe colocou um dedo nos lábios. “Poupa-me o discurso de que és uma merda. Ao longo dos últimos anos senti que te tinha perdido de vez. Parecia que não era ninguém para ti. Era isso que me fazias sentir. E, com dor, via-te ir ao fundo. Observava uma pessoa extraordinária fazer questão de se afundar cada vez mais na lama. E mais. Sem que nada pudesse fazer. Não preciso que digas que vales isto ou aquilo. Conheço-te há tempo suficiente para saber que tipo de homem és. E és o homem que amo. Que sempre amei, mesmo quando pensava que me detestavas por razões que me escapavam”, disse-lhe.

“Isto pode soar estranho mas acho que acabei de ouvir as palavras mais bonitas que alguma vez me dedicaram. E isto também te pode soar estranho mas amo-te. Muito mais do que julguei ser possível amar alguém. E não posso ser mais sincero contigo do que isto apesar de ter a noção que podes pensar que não te amo”, argumentou ele. “Mas não preciso que me digas que me amas. Aquilo que preciso é que me demonstres que me amas. Que me proves, sem sentir essa necessidade ou exigência, que sou a mulher que queres. Aquilo de que preciso são abraços como aquele que me deste no carro na outra noite. Mas, sem que me digas segundos depois que me vais deixar partir por isto ou por aquilo. De que tens medo afinal?”, perguntou-lhe.

“De não ser o homem que mereces. Não ser o homem que esperas. Não estar à altura do teu amor. Perceberes que sou uma desilusão para ti. E acabar abandonado por culpa própria, deixando-te triste. É isto que me assusta. E é isso que me tem levado a errar. E a voltar a errar. E a errar ainda mais vezes quando prometo a mim mesmo que não voltarei a errar. Foi isso que me fez não responder às tuas chamadas e mensagem. Foi isso que me fez chegar aqui quando a porta já estava fechada. E foi isso que me fez ficar aqui a chorar sentado no chão. Acho que mereces mais do que eu”, insistiu ele.

“Há um detalhe que me fez perceber de vez o que sou para ti. A decisão de não embarcar foi minha. A decisão de ficar por cá foi minha. Provavelmente iria tentar falar contigo. Mas isso não era uma certeza. E quando saí do aeroporto e te vi aqui à chuva, percebi que significava algo para ti. Quando te vi chorar como estavas a chorar, percebi que me amavas. Como sempre sonhei ser amada... por ti. E isso é mais do que suficiente”, disse, ficando durante alguns segundos a olhar fixamente para ele. “E o que me dizes a sair desta chuva?”, acrescentou.

“Acho bem. Mas primeiro tenho de fazer uma coisa”, respondeu ele. “O quê?”, inquiriu ela. Quase sem tempo para completar a questão, aproximou-se ainda mais dela, dando-lhe o beijo mais sentido que alguma vez trocaram. Quando se afastaram, ele preparava-se para entrar no carro. Até que foi puxado por ela. “Agora sou eu que tenho uma coisa para fazer”, disse-lhe, devolvendo-lhe o beijo dado por iniciativa dele. Momentos depois entraram ambos no carro e seguiram viagem em direcção à casa dela.

agora escrevo eu #19

Quantas vezes paramos para pensar naquilo que fizemos? Nas nossas opções. Se foram certas ou erradas. Naquilo que dissemos. Naquilo que deixámos por dizer. E naquilo que não dissemos com receio da reacção que podia provocar. E ainda aquilo que não fizemos. E quantos de nós desejam tudo aquilo que não temos? E quem é que luta por isso? Este é um daqueles textos que nos deixa a pensar em diversas questões.

“Estou a olhar para dentro de mim agora e para o que tenho, para o que consegui construir sozinha, e sinto o meu coração cansado de querer o que não tem!

Where are you now?
O que é que eu mudaria se soubesse? Mudava a forma como deixei de te dizer o quanto és importante para mim. Quis ser a menina bem comportada, a que diz apenas o que está correcto, e o tempo não se compadeceu de mim e levou-te para onde não sei, para onde não te encontro. Levou-te e contigo parte do que importava, levou a minha vida e agora, sentada no meu sofá, sozinha, cabisbaixa, olho para o que conquistei, mas o sabor é amargo, não carrega sucesso, apenas dor e desgaste.

Where are you now?
Não sei quando irei ouvir a resposta, mas estou pronta para a receber e para mudar tudo o que fiz de errado. Desta vez sei que estou, e que direi apenas o que sinto, quero e o que fará o meu coração cansado, feliz.”

todos temos algo a esconder

“Eu não tenho nada a esconder de ninguém”, é uma frase proferida por diversas pessoas. Mas eu não acredito nisto. Porque acho que todos nós escondemos algo. Qualquer pessoa tem algo em si, sendo que este algo pode ser de diferentes domínios, que não quer que mais ninguém saiba que existe. É algo pessoal. Um segredo que deverá permanecer bem guardado.

Porém, não associo estes segredos pessoais a algo necessariamente mau. Pode ser uma característica específica. Pode ser algo que a pessoa gosta de fazer quando está sozinha. Pode ser um vício. Pode ser um fetiche. Pode ser algo que a própria pessoa sente como sendo embaraçoso aos olhos dos outros, acabando por preferir esconder esse algo. Ou pode simplesmente ser outra coisa qualquer no meio de milhões de hipóteses possíveis, que variam de pessoa para pessoa.

Acredito que muitas pessoas dizem que não têm segredos porque associam esta frase a coisas básicas da vida. Como não roubar ninguém. Não mentir. Não enganar. Não trair. Não ser trafulha. Não falar mal dos outros. E por aí fora. São pessoas que quando vêem a sua idoneidade atacada prontamente se defendem com o politicamente correcto “não tenho nada a esconder.”

Agora, de uma coisa não tenho dúvidas. Todas as pessoas têm segredos. Que não contam a ninguém. Que não querem que mais ninguém saiba. E que se esforçam para manter bem guardados e escondidos. Ou que revelam a um número bastante reduzido de pessoas. Não tem que ser algo mau. Mas que estes segredos existem, existem. E toda a gente os tem. Mesmo quem garante não ter segredos a esconder de ninguém.

quem me explica a utilidade disto #4

Chama-se Fanny Floss. Um nome daqueles bem simpáticos que conseguem ficar no ouvido. Este produto tem por objectivo limpar o rabo e algo mais. Como? Através de uma espécie de corda que é puxada de trás para a frente. Ou de frente para trás. Consoante o gosto do cliente. Segundo as indicações do produto, este pretende alcançar áreas de difícil acesso. O Fanny Floss é vendido ao rolo e custa cerca de 4,40 euros a unidade. Segundo o produto, “uma rabo limpo é um rabo feliz.”

A primeira questão que me ocorre ao descobrir este produto: quais são as áreas de difícil acesso? Onde é que uma pessoa não se consegue limpar, recorrendo ao tradicional papel higiénico, toalhitas húmidas ou aos restantes produtos de higiene íntima indicados para o efeito? E, colocando a hipótese de uma pessoa estar suja, andar para ali a esfregar com uma corda não vai alastrar a sujidade?


Este é daqueles produtos para os quais não consigo vislumbrar nenhuma utilidade. A não ser para uma divertida troca de presentes entre amigos. Aliás, começo a acreditar que boa parte destes produtos são criados na expectativa de serem aproveitados para brincadeiras. Ou então não. Por isso, quem me explica a utilidade disto?

revelar ou aprender a esconder

Poucas pessoas conhecem as emoções de uma das mulheres mais famosas do mundo. Aliás, pouco mais do que o sorriso e acenar de mão se conhece de Isabel II, a rainha de Inglaterra. Ao longo dos sessenta anos de reinado, a monarca britânica nunca revelou o seu estado de espírito em público. Por exemplo, basta recordar a morte de Diana. Ao longo de todo este processo, o rosto da rainha manteve-se igual ao que sempre foi. Esta ausência de emoções tem dado que falar ao longo destas seis décadas. Tem existido muita polémica em torno deste aspecto. Mas Isabel II nunca mudou a sua forma de estar.

Numa noite, quando tinha apenas 26 anos, Isabel II foi dormir como uma jovem princesa. No dia seguinte, acordou com a notícia de que era rainha, devido à morte do seu pai. Apesar dos príncipes e princesas estarem sempre submetidos (quando assim é necessário) a uma preparação para ocupar o cargo de soberano, com Isabel II tudo foi diferente. Pela idade. E por não ter outra hipótese que não passasse por ser rainha com pouco mais do que vinte anos.

Como tal, e em tenra idade, Isabel II foi ensinada a esconder os seus sentimentos. A então rainha passou a ter como missão nunca revelar aquilo que sente. A sua excessiva alegria. Ou a sua profunda tristeza. E este é o motivo pelo qual ninguém conhece o verdadeiro estado de espírito da rainha de Inglaterra. A postura é sempre a mesma. Existe um sorriso aqui. Outro ali. E pouco mais do que isso.

Desde que tenho conhecimento desta história que dou por mim a pensar se aquilo que ensinaram à rainha não será o mais adequado. Até que ponto todas as pessoas devem ter acesso a tudo o que nos deixa felizes? E a tudo que nos arrasa por completo e nos deixa de rastos? Serei uma pessoa mais fraca se for mais transparente no que às emoções diz respeito? Serei mais vulnerável ao mundo que me rodeia?

Nunca ninguém me disse aquilo que foi dito a Isabel II. E até me considero um livro aberto. Sendo que algumas páginas não estão ao acesso de todas as pessoas. E não as revelo por achar que ninguém as deve ler ou porque me faz parecer mais fraco. Faço-o porque acho que existem coisas que me atormentam mas que não devem ser um problema nem preocupação para quem me rodeia. Deve ser um processo apenas e só meu. E neste ponto, dou razão às pessoas que ensinaram a rainha.

30.10.13

respect


Algo que Garrett McNamara faz na perfeição. Algo que Carlos Burle igualmente faz na perfeição. E algo que Maya Gabeira tentou fazer. Sem sucesso mas com a sorte de não ter sido engolida pelo mar para nunca mais ser vista. Talvez por respeitar a ousadia de quem se atreve a enfrenta-las, as ondas da Nazaré devolveram a sereia brasileira apenas com um tornozelo partido.

E talvez por respeitar um homem que relegou a concentração de domar uma onda gigante para segundo plano passando a ter como objectivo único salvar a vida da compatriota surfista, as ondas da Nazaré permitiram a Carlos Burle domar na perfeição aquela que poderá ser a maior onda do mundo alguma vez domada por um pequeno humano em cima de uma minúscula prancha. Não só a domou como teve o privilégio de surfar numa linda onda que não quebrou, tal como tinha acontecido com McNamara e o que lhe poderá valer um recorde que em tempos foi seu.


Graças a pessoas como estes três surfistas, a Nazaré está cada vez mais perto de se tornar numa referência mundial no que ao surf diz respeito. Graças a pessoas como Carlos Burle mas sobretudo Garrett McNamara, existem diversos turistas que vão para a Nazaré. E que pouco depois das seis da manhã já estão acordados para ver as ondas e os corajosos que as ousam enfrentar. Graças a estas pessoas, o nome de Portugal corre o mundo. E é falado por bons motivos. E não por crises, cortes, despedimentos ou algo do género.

Já observei diversas campanhas turísticas feitas com pessoas que pouco ou nada fazem pelo turismo nacional. E que conseguem ser pagas a peso de ouro para o tentar promover. Acho que seria de bom-tom pegar em pessoas como estas para promover o nosso país para um determinado público-alvo. Pessoas que conseguem aproveitar aquilo que de melhor existe num local específico e colocar meio mundo a falar sobre o tema. E que podiam ser melhor aproveitadas pelo nosso país, funcionando com uma belo cartão de visita.

multi...paciência

Máquinas multibanco. Não são propriamente as minhas melhores amigas. A nossa relação passa, basicamente, por me esvaziar a conta. Umas vezes nem sinto o cheiro do dinheiro porque serve para pagar contas. Em outros casos consigo ter o dinheiro alguns minutos ou mesmo horas na carteira. Mas acaba por ir sempre parar a outra conta que não a minha.

Tanto num caso como noutro, sou recebido da mesma forma. Por um simpático boneco de braços abertos que se ri. Posso ter 50 mil euros na conta ou apenas dez que o sorriso é sempre o mesmo. A única vez em que se aborrece comigo é quando lhe peço coisas que não tenho. E aí, lá faz uma cara triste. Como se realmente estivesse infeliz por não ter autorização para me dar dinheiro.

Por isso, a minha relação com as máquinas multibanco é uma espécie de speed date. Sendo que, é como se não houvesse atracção entre nós. Chego lá. Não gosto dela. Ela não gosta de mim. E fazemos aquilo que temos a fazer, o mais rápido possível, enquanto esperamos que toque a buzina para trocar de lugar. Não existem grandes trocas de palavras nem mimos. Nem sequer chegamos a dizer o nome um ao outro. É mesmo um caso de falta de química. Ou como se costuma dizer, não há aquele clique que nos une.

Mas a nossa relação tem excepções. Não da parte do simpático boneco ou mesmo da máquina. Mas da minha parte. O meu interesse por ela cresce sempre numa altura específica. Que é quando estou atrasado para algo em que preciso de dinheiro porque é impossível pagar com o cartão. Como paga por só gostar dela nessa altura, esses momentos são sempre pautados por longos namoros que me atrasam ainda mais.

Quando eu mais desejo uma máquina multibanco é quando ela é namorada por um grupo específico de pessoas que têm o poder de testar a minha paciência. Aquelas pessoas que pagam trinta contas de uma vez mas que retiram o cartão da máquina após cada movimento. Aquelas pessoas que fazem a consulta de saldo em papel e que ficam a analisar o mesmo em frente à máquina. E até aquelas pessoas que conseguem tentar a mesma operação um sem número de vezes apesar da mensagem do ecrã não ser a mais simpática.

quem se atreve a provar?

Não sou grande conhecedor do mundo do oculto. Dos espíritos. Assumo que é uma temática sobre a qual nunca me procurei informar. Não está em causa se acredito ou não. Aquilo que posso dizer é que respeito tudo aquilo que envolve este domínio. Quando era mais novo lembro-me de ter participado, com diversos amigos, numa conversa com espíritos, através da tábua de Ouija. E recordo-me de ter ficado assustado com o facto de, durante o “jogo”, terem sido dadas algumas respostas surpreendentes.

Além disso, sempre ouvi dizer que existe um grande perigo na utilização da ouija. Algo que especialistas desaconselham por se tratar de uma porta com poderes desconhecidos. Mesmo assim, este tabuleiro tem sido utilizado por milhões de pessoas que recorrem ao mesmo para estabelecer diálogos com pessoas que já não se encontram neste mundo. Até hoje, o tabuleiro de ouija era tradicionalmente composto por uma peça de madeira, comercializada em locais específicos. Mas, tudo mudou. A partir de agora faz parte de uma bebida chamada Evil Spirits. Esta ideia permite efectuar uma mistura explosiva: vodka e o mundo do espíritos.

“Vindo de um lugar escuro nasce este vodka liso natural. Uma arte da destilação - tão espectacular que só poderia vir em troca de favores diabólicos – que transforma os melhores ingredientes e invoca a presença de um espírito tentador. Está na hora de sucumbir aos prazeres dos espíritos malignos.” Esta é a forma como este produto é apresentado.










Acredito que para muitas pessoas trata-se apenas e só de uma brilhante ideia comercial. Para outras será passar a linha que nos leva a entrar num mundo de dimensões desconhecidas. Tendo em conta que amanhã se celebra o Halloween, a pergunta que se impõe é esta: quem se atreve a provar isto e desafiar os espíritos malignos?

gastas muito dinheiro no cabeleireiro

Sou da opinião que certos cargos impedem que se torne pública uma opinião pessoal sobre determinado assunto. Opinião essa que nunca será vista como uma mera opção. Será quase sempre encarada como pressão para certas pessoas. E pode até ser encarada como uma falta de respeito. Aquilo que o Joseph Blatter, presidente da FIFA, fez em relação a Cristiano Ronaldo.

Sendo o principal rosto do maior órgão que tutela o futebol, o suíço não deve dizer que prefere Messi a Cristiano Ronaldo. Muito menos o deve fazer perante uma plateia e uma câmara que o filma para difundir o vídeo com a sua opinião. Mesmo assim, caso o queira fazer (continuo a achar que não deve) deve limitar-se a dizer que considera Messi um melhor jogador do que Cristiano.

Agora, dizer que Messi é o filho que todos os pais querem ter e pegar ao colo e que Cristiano Ronaldo joga como um militar, levantando-se para imitar o jogador português é uma tremenda falta de respeito perante um dos maiores símbolos do futebol actual. Blatter ainda consegue descer mais o nível ao dizer que um (Cristiano) gasta mais dinheiro do que o outro no cabeleireiro. Felizmente, Cristiano Ronaldo, jogador que tem algumas atitudes com as quais discordo, esteve muito bem na resposta. Mostrou classe. E rematou o assunto como se fosse um dos seus melhores golos.

É certo que o vídeo em questão tem dado muito que falar (quem ainda não viu, pode ver aqui) mas quem acompanha o futebol de perto, sabe que Joseph Blatter é um daqueles avançados que a centímetros da baliza e sem guarda-redes pela frente, consegue chutar sempre ao lado. Para quem não conhece este economista, aqui ficam algumas das suas pérolas.

Visão sobre o futebol feminino
“Deixem as mulheres usar roupas mais femininas, como fazem no voleibol. Podiam, por exemplo, usar calções mais curtos. As jogadoras são bonitas, se me permitem dizê-lo, e já têm algumas regras diferentes dos homens, como a bola mais leve. Essa decisão foi tomada para criar uma estética mais feminina, então por que não fazê-lo com estilo?”

Como acabar com as grandes penalidades
“Temos cerca de quatro anos, por isso penso que há tempo suficiente para implementar. Repetir o jogo, tendo em conta que se trata da final, talvez não seja viável, por falta de tempo. Talvez tirar jogadores e jogar o golo de ouro. O futebol é um desporto de equipa e as grandes penalidades são um aspecto individual.”

O dia em que Cristiano Ronaldo foi apelidado de escravo
“É escravatura moderna a forma como os clubes transferem ou compram jogadores”

O conselho para os homossexuais que queiram ir ao Mundial do Qatar (2022), país onde a homossexualidade é criminalizada
“Diria que os gays se devem abster de actividades sexuais.”  

isto é mentira? não é?

Ela é considerada uma das mulheres mais sensuais do planeta. Ela é desejada por muitos homens. Ele É considerado um dos homens mais sensuais do planeta. Ele é desejado por muitas mulheres. Ela é a Miranda Kerr. Ele é o Orlando Bloom. Um anjo da Victoria´s Secret e um actor. Que se conheceram. Que se apaixonaram. Que casaram. Que tiveram um filho, de nome Flynn. E que, agora se separaram. Sem guerras nem dramas. Ele até diz que não são amigos. São família. E a verdade é que depois da separação já foram vistos a passear com o filho, num cenário ideal para pais que se separam e optam por seguir caminhos diferentes.

Até aqui, tudo bem. É uma história de amor como tantas outras. Sem direito ao foram felizes para sempre. E com a diferença de que se tratam de duas estrelas mundiais que têm em comum o facto de serem bastante desejadas pelo sexo oposto. Até que me deparo com uma notícia que me deixou estupefacto. De acordo com a mesma, Justin Bieber é o responsável pela separação de Miranda Kerr e Orlando Bloom.

Ao que parece, a manequim, que é grande fã de Justin Bieber, terá ensinado o filho a dizer “bieber fever” algo que não terá sido do agrado do actor. Além disso, Orlando Bloom não terá gostado de saber que a mulher e o jovem cantor estiveram a flirtar nos bastidores de um desfile da marca de lingerie pela qual Miranda Kerr dá a cara e o corpo. E que este terá sido o motivo da separação.

Recuso-me a acreditar nisto. Acho que só pode ser um boato sem qualquer lógica. Porque, caso seja verdade, revela uma grande dose de insegurança por parte de Orlando Bloom. Não se fala em traição. Fala-se de flirt. Num cenário que tem como destaque aquelas que são consideradas as manequins mais famosas do mundo. Que por sua vez têm o corpo coberto apenas por umas mini cuecas e uns mini soutiens. E por um miúdo que tem somente 19 anos. Que certamente se terá sentido como uma criança que entra pela primeira vez numa loja de doces. E que fica ali a olhar para todos ao mesmo tempo que deseja ficar com cada um deles.

Por sua vez, ele é um actor. Habituado a fazer par romântico com dezenas de actrizes. Passando diversas horas, ao longo de vários dias e de outros tantos meses a trocar beijos técnicos com as mesmas enquanto filma mais uma longa-metragem. Como se trata de uma relação de seis anos, quero acreditar que não foi através da insegurança e dos ciúmes que Miranda Kerr e Orlando Bloom estiveram tanto tempo juntos.

Além disso, Justin Bieber é apenas um menino. Não está em causa a sua beleza ou atributos físicos. Não discuto isso. Mas Miranda tem 30 anos e Orlando 36. Colocar um ponto final numa relação de longa data (e da qual resultou um filho) por causa de um menino de 19 anos e de um ambiente de flirt num cenário onde se destacam mulheres sensuais quase nuas parece-me descabido. Por isso, quero acreditar que este não é o motivo da separação.  

29.10.13

verdade ou mito #36

De acordo com especialistas em relacionamentos amorosos, aqueles que optam preferencialmente pelo flirt que se baseia numa abordagem física têm tendência a manter relacionamentos breves e passageiros. Ao contrário, aquelas pessoas que optam por uma abordagem sincera e descontraída tendem a atrair pessoas que procuram relações longas. Isto será verdade? Será que dar destaque à vertente física faz com que a outra pessoa acredite que é apenas isso que alguém quer? Será que optar por uma abordagem descontraída e sincera leva a acreditar que a pessoa procura uma relação séria? Ou será mito? Porque na verdade o tipo de abordagem nada tem a ver com a relação em si? Verdade ou mito?

desespero. ignorância. e erros

A distância que separa o desespero da ignorância consegue ser bastante curta. Aliás, é tão curta que um grande número de pessoas não consegue perceber quando está a sair do domínio do desespero e a entrar no espaço da ignorância. Uma pessoa desesperada acaba por dizer tudo aquilo que lhe vem à cabeça. Não presta atenção ao pensamento. Não tenta perceber se existe lógica naquilo que não é nada mais do que o produto criado pelo desespero. E diz disparates atrás de disparates.

Isto faz com que se diga tudo e mais alguma coisa. Que se disparem palavras em todas as direcções. Sendo que a maior parte delas acabam por ser verdadeiros tiros nos pés. Neste momento, a ignorância atinge uma proporção gigantesca. O que faz com que duas ou três verdades, proferidas no meio de um enorme chorrilho de palavras sem lógica, passem despercebidas. E sejam vistas apenas como mais um acto ignorante de desespero.

Quando o desespero e a ignorância andam de mãos dadas, perde a a razão. Mesmo que uma pessoa tenha razão, apoiando-se no desespero e ignorância, que em muitos casos ainda junta a mentira à festa, consegue perder a mesma em segundos. Nesta altura acumulam-se erros, falhas e ainda mais erros e ainda mais falhas que resultam numa diminuição de credibilidade que leva à inexistência da mesma.

Nada melhor do que parar para pensar antes de abrir a boca. Quando o momento não é de fácil gestão. E, sobretudo, quando se vai falar para um enorme número de pessoas. É certo que tudo isto é igualmente válido para uma conversa/história com poucos intervenientes. Mas quando os ouvintes são em larga escala exige-se um esforço redobrado para manter a boca fechada. Até porque, deste modo existem diversas dúvidas que não passam disso mesmo. Quando se abre a boca, passam a certezas. E nem sempre são as melhores.

coisas de putos? #1

Há muito que as consolas deixaram de ser uma coisa exclusiva dos miúdos. Se é que alguma vez chegaram a ser! Actualmente, os graúdos disputam os comandos com os filhos e com os sobrinhos. Observam os jogos dos mais novos, sempre com vontade de participar. E, quando a noite chega, conseguem arranjar forma de ficar no sofá mais umas horinhas a namorar com o seu jogo de eleição.

Este mercado gigante não passa despercebido aos criadores de jogos. Nos dias que correm, fazer um jogo chega a sair mais caro do que alguns filmes de Hollywood. E com lucros muito maiores do que certos filmes. É uma indústria de largos milhares de milhões de euros. Por exemplo, e espero não estar enganado no nome do jogo, o Grand Theft Auto V já vendeu mais unidades até ao momento do que todos os livros juntos no ano passado, no que aos Estados Unidos da América diz respeito.

Já aqui tinha dito mas volto a dizer. Gosto de consolas. E de alguns jogos. Não tenho por hábito jogar muitas vezes por semana mas gosto de o fazer. Normalmente, a minha opção passa por jogos de futebol e por “duelos” online com alguns amigos ou com pessoas que não conheço de lado nenhum. Mas, neste momento o futebol passou para segundo plano. E a culpa é desse “maldito” chamado GTA V. Nunca tinha comprado nenhum dos anteriores. Nem sequer tinha jogado. Mas já tinha lido críticas muito boas sobre o mesmo. E, certo dia, vi o Conan O´Brien a testar o jogo no seu programa. Nesse momento fiquei conquistado. E sabia que era uma questão de dias até comprar o jogo.

O primeiro encanto deste jogo é viver aquilo que quase ninguém vive na sua vida. Roubar carros, conduzir de forma louca em qualquer estrada, pilotar aviões, matar pessoas, engatar strippers, tatuar o corpo todo, queimar casas, consumir drogas e assaltar joalharias de luxo são apenas alguns do ingredientes do jogo. Isto será o encanto de uns. E uma completa estupidez para outros. Até que se começa a perceber (e viver) melhor a história de cada um dos personagens do jogo. E descobrem-se histórias de amor. Crises de meia idade. Problemas entre pais e filhos. Entre irmãos. Pais que querem reconquistar os filhos. Amigos que se deixam influenciar por más companhias. Romances antigos. Amizades verdadeiras. E pessoas que sentem que aquilo que melhor conseguem fazer na vida é assumir o papel de bandido temível sem medo da morte.

Descobrir tudo isto muda por completo a imagem que se tem de um jogo associado apenas e só ao banditismo puro. A tudo aquilo que é mau na vida. O GTA V consegue cativar quem assume o comando e passa a viver a vida de Michael De Santa, Franklin Clinton e Trevor Phillips. Tal como num bom filme, o jogador chega a sentir que aquela história é mesmo sua e que tem a possibilidade de mudar a vida daquelas pessoas. Por outro lado, mais do que tiros, facadas, murros e pontapés, este jogo exige muita perícia com as mãos pois as missões nem sempre são fáceis.


Por fim, o GTA V é aconselhado para maiores de 18 anos. E acho que esse aspecto deve ser respeitado por quem compra o jogo. É certo que é apenas um jogo mas consegue ser bastante violento, agressivo e hardcore em determinadas situações. E deixo ainda um desafio a todas as mulheres que lamentam as horas que eles passam a jogar. Ofereçam-lhes o GTA V. Mas, mostrem vontade de jogar. E deixem-se levar pelas vidas daquelas três pessoas. Aposto que não será preciso muito para que não lhes queiram devolver o comando.

bárbara e carrilho. bons e maus exemplos.

Se não estivesse a par das notícias e consequentes trocas de acusações entre o ainda casal e alguém me dissesse que existia violência doméstica entre ambos, a minha primeira reacção seria: a Bárbara Guimarães bate no Carrilho? E teria esta reacção por achar que a apresentadora é uma mulher muito mais forte do que o antigo ministro. Mas, lá está. As aparências valem o que valem. Apesar de ter uma imagem forte, Bárbara pode ser uma mulher bastante frágil. E Carrilho, mesmo não o parecendo, pode ser o diabo em pessoa. Até porque a violência doméstica não escolhe contas bancárias, estatuto social, fama, entre muitas outras coisas.

Neste momento noto um certo desespero. De parte a parte, mas sobretudo do lado de Carrilho. Isto faz com que se digam coisas que não deveriam ser ditas. Que deveriam ser guardadas para conversas pessoais e para os locais adequados. Por outro lado, sou da opinião de que certas coisas devem ser tornadas públicas. Porque os famosos não podem ser apenas notícia quando têm um carro novo, quando têm um novo programa, quando lançam um livro ou quando fazem uma publicidade. Ao tornar-se público este caso, abre-se uma discussão pública que não iria existir se estas acusações fossem trocadas por dois cidadãos comuns.

A ser verdade que Carrilho é um agressor, isso deve ser sabido. A ser verdade que Bárbara é uma mãe desleixada devido ao abuso de álcool, isso também deve ser sabido. A ser verdade que Bárbara foi agredida, a apresentadora fez bem em gritar basta, podendo vir a ser um exemplo para muitas mulheres que se debatem com o mesmo problema mas que não têm coragem para fazer aquilo que a apresentadora fez. A ser verdade que Bárbara é desleixada com os filhos, o antigo ministro faz bem em lutar por aquilo que considera ser a segurança dos mesmos.

Não conheço o casal. Não sei o que se passava dentro de casa. Nem sei quem é que tem razão nas acusações. Ele? Ela? Os dois? Não sei… Mas, a opinião que tenho é que existem muitas outras histórias por contar. Muita coisa por dizer. Que eventualmente terá levado a este desfecho. No meio disto tudo, e como acontece em casos do género, tenho pena dos filhos. Porque não têm nada a ver com a guerra dos pais mas vão ser usados como “armas” na disputa entre ambos.

28.10.13

clichés ou leis da vida?

Live. Laugh. Love. Vive. Ri. Ama. Em bom português. Este é capaz de ser um dos maiores clichés sobre a vida. Três palavras de que muitas pessoas gostam. Um mote de vida para alguns. Uma tatuagem para milhões. E nada mais do que um mero cliché para outros tantos. Assumo que para mim chega, muitas vezes, a não ser mais do que um bonito conjunto de palavras que se agrupam na perfeição. Mas será mesmo só isso?

Num minuto celebra-se um nascimento. A vida de uma criança que ainda dá os seus primeiros passos neste mundo. E que está longe de imaginar como é a vida dos crescidos. No minuto seguinte toca o telemóvel. Um acidente. Grave. Um carro sem destino definido. Felizmente, não ficou uma única ferida ou arranhão para contar esta história. Mais uma vez celebra-se a vida. Num registo diferente. Com base no medo de perder alguém. É um festejo de suposições no momento do reencontro. E se não existissem rails na estrada? E se o carro não fosse tão seguro? E se fosse mais gente no carro como é normal? É um mundo de questões que passam pela cabeça de todos. Em loop. Sem parar.

Tudo muda num breve instante. Um segundo é mais do que suficiente para que a vida dê uma volta inesperada. Assustadora. Que leva uma pessoa a colocar tudo em causa. E é nestes momentos que me lembro que live, laugh, love não é apenas um cliché. Não pode ser apenas um conjunto de palavras simpáticas. Tem de ser muito mais do que isso. Tem de ser uma das principais leis da vida. Daquelas que têm obrigatoriamente de ser postas em prática a cada segundo das nossas vidas.

Vive. Com aqueles que realmente são importantes e que ajudam a trilhar um caminho. Ri. Com aqueles que sempre estão presentes na tua vida. E ama. Dando protagonismo a um dos mais belos e nobres sentimentos da vida. E uma das mais sólidas bases de tudo. Um poço de força. Isto pode parecer simples, mas não é. Até porque, no espaço destas três palavras cabem muitos problemas. Contas para pagar. Trabalho para manter. Emprego para arranjar. Família para sustentar. Filhos para educar. Enfim, sobreviver.

Destes problemas não nos podemos afastar. E com eles temos obrigatoriamente de viver, dia após dia. Temos de ultrapassar tudo isto. Com maior ou menor dificuldade. Não há mesmo volta a dar. Mas, existem tantas coisas que podemos facilmente excluir da nossa vida. Coisas insignificantes com que cada pessoa se debate diariamente e a que acaba por dar uma importância excessiva. Coisas, pessoas, problemas, aborrecimentos e por aí fora. É por isto, por telefonemas como o que contei aqui, que live, laugh, love não pode ser um cliché. Tem mesmo de ser uma lei da vida.

27.10.13

rasgadinho

Belo clássico. Foi pena não ter dado empate. O que seria ideal para o meu Benfica. Mas gostei do jogo que vi. O Porto, igual a si próprio. Forte. Não tão intenso como é costume mas letal como é seu apanágio nos jogos em casa.

O Sporting. Gigante. Do outro mundo quando comparado com o da época passada. A equipa de Leonardo Jardim só não ganhou porque falhou aquilo que é impossível falhar em jogos destes. Como foi o caso do falhanço de Montero, a centímetros da baliza de Helton.

Apesar de gostar imenso deste Sporting, acho que o clube faz bem em não assumir a candidatura e encarar esta época como o ano zero de um projecto que parece vir a dar frutos no futuro. E acho isto porque trata-se de uma equipa imatura. Fruto da tenra idade dos seus jogadores. Algo evidente no lance (evitável) da grande penalidade e no golo sofrido dois minutos depois do empate. E algo que será notável em jogos de maior pressão.

Considero ainda que falta um pouco de ousadia e atrevimento a Leonardo Jardim. As substituições são quase sempre as mesmas e é quase sempre troca por troca. Percebe muito de futebol mas é excessivamente cauteloso.

O Porto... é o Porto. Vítor Pereira - treinador que considero ser bastante limitado - conseguiu ganhar vários troféus. Paulo Fonseca também há-de ganhar. Eu, se lá estivesse também ganhava. Como qualquer pessoa que leia este texto. Considero que o clube é uma máquina bem oleada cujo desempenho quase não depende do treinador. A minha única dúvida é perceber como é que o clube irá reagir à saída de Pinto da Costa.

Foi daqueles jogos rasgadinhos. Que levam pessoas ao estádio. E que dão bom nome a um campeonato que tem sido sempre igual ao longo dos últimos anos. Venham mais jogos destes.

Enviado do meu iPhone

faz com cada figura

Este ano, aproveitei a iniciativa Lisboa Restaurant Week para descobrir o restaurante Faz Figura. Um daqueles espaços que costumava observar quando passava por Santa Apolónia. Passava por lá, olhava e dizia quase sempre o mesmo: “um dia destes temos de ir lá.” Posto isto, esta iniciativa de que gosto muito foi a desculpa ideal para jantar no Faz Figura.

Cheguei, fui acompanhado à minha mesa e fiquei rendido. Nesse momento, o jantar quase que passou para segundo plano. A vista para o Tejo e para a outra margem conquistam qualquer pessoa e deixam no ar a dúvida de como será um jantar de Verão, iluminado por um pôr-do-sol alfacinha. Após o encanto da paisagem, e enquanto me deliciava com as azeitonas (são irresistíveis para mim) chegou a entrada: amêijoa à bulhão pato com bolo do caco. De comer e chorar por mais.

Como pratos principais, escolhemos bacalhau confitado com puré de grão e azeite de poejo e ainda arroz de pato com compota de laranja. Provei os dois. Gostei dos dois. Mas, se isto fosse um duelo, acredito que teria de dar a vitória ao arroz de pato. Para sobremesa, provei a mousse de chocolate branco com coulis de framboesa e crumble de pêra com gelado de canela.

Vista

Entrada

Bacalhau

Arroz de pato

Aproveito para destacar a simpatia do staff do Faz Figura. Enalteço também o papel do chef Pedro Dias, que dedica especial atenção aos clientes que frequentam o espaço. São detalhes como estes que fazem toda a diferença e que deixam o desejo de querer voltar em breve. E eu vou voltar.

26.10.13

hoje é o teu dia

Seis anos. Parece que foi ontem mas já se passaram seis anos desde que te vi pela primeira vez. Ainda ontem andava nervoso de um lado para o outro nos corredores do hospital enquanto esperava pelo nosso encontro. Agora, estou aqui boquiaberto com a velocidade a que continuas a crescer.

Ainda ontem eras uma menina pequenina que facilmente se apoiava na palma da minha mão. Hoje estás uma matulona cada vez maior. Ainda ontem mal abrias os olhos. Hoje estás cada vez mais esperta e atenta a todos os detalhes.

Ainda ontem choravas com as dores do nascimento dos primeiros dentes. Hoje sorris quando te cai um dentinho. Ainda ontem mal falavas. Hoje já tens testes na escola e já te dedicas aos trabalhos de casa.

És minha sobrinha. A única até ao momento. Mas sinto-te como se fosses minha filha. Não sei se estou certo mas acredito que ser pai não será muito diferente daquilo que sinto contigo.

Hoje é o teu dia. E só tu é que interessas. Por isso, vamos festejar como se não houvesse amanhã. Tu mereces. E eu, que te amo muito, quero dar-te tudo. Já agora, podes continuar a dizer que sou o homem mais bonito do mundo. Sabemos que é mentira mas fico sempre bem-disposto quando o dizes.

Por fim, espero que leias este texto em breve. Ajudo-te a juntar as letras, como costumamos fazer, ok?

Enviado do meu iPhone

25.10.13

pensamento da semana #8


Desde pequeno que vivia com a utopia de que tudo aquilo que é mau deve ser combatido. Por cada pessoa. Por si só. Ou em grupo. Isto fazia com que cometesse diversos erros. Que me aborrecesse em demasia. Que me irritasse facilmente com algo ou alguém. E que até travasse guerras desnecessárias. Para isso também contribuía o meu lado impulsivo. Que não ajudava em nada. Era como se estivesse a juntar a fome à vontade de comer.

Com o passar dos anos fui mudando. Quero acreditar que amadureci. E a experiência de vida ensinou-se que nem tudo o que é mau deve ser combatido. Existem guerras para se travar. E outras para serem ignoradas. Como se não existissem. Existem coisas que podem e devem ser melhoradas por cada um de nós. E outras coisas que devem ficar ao abandono porque esse é o melhor castigo que podem ter.

Ao aperceber-me disto passei a irritar-me muito menos. Deixei de me chatear. De me aborrecer. De comprar guerras que não interessam para nada. É verdade que cometo alguns erros. Até porque o meu lado impulsivo, apesar de estar mais controlado, ainda existe. Quando sinto que tomei a decisão errada, apoio-me quase sempre nesta frase. Que acaba por dar razão à minha linha de raciocínio.   

será que bebo um bom café?

Para muitas pessoas, o café é uma espécie de melhor amigo. Há quem não o dispense logo pela manhã, para acordar. Existem aqueles que bebem vários ao longo do dia. E tal como em tudo na vida, existem pessoas que têm o gosto mais requintado e que bebem um determinado tipo de café e aqueles que bebem um café qualquer. Em comum, todas as pessoas têm diversas questões sobre o café. No meu entender, aquilo que os amantes desta bebida devem perguntar a si mesmos é: estou a beber um bom café?

A convite da Associação do Café participei num workshop “mágico” sobre o café, que teve lugar na Academia do Café, em Lisboa. Em cerca de duas horas deu para fazer muitas coisas e aprender muito sobre diversos temas. As origens do café. A forma de colheita. O método de torra. A qualidade da água. O tempo de extracção. A própria chávena. Resumindo, tudo o que é necessário para preparar e beber um expresso perfeito.

Tal como eu gosto, a teoria foi acompanhada pela experiência prática. Existiram testes de sabores. Tentaram adivinhar-se aromas (é incrível como conseguimos ser surpreendidos). Provou-se também cafeína pura, que numa “pequena” quantidade consegue ser letal. Abordaram-se diversos mitos. Daí ter feito algumas questões sobre café no blogue, como por exemplo se um descafeínado é mais prejudicial para a saúde do que um café e ainda qual deles (curto ou cheio) é que tem mais cafeína. No final, ainda deu para experimentar a capuccino art.

Bancada de serviço

Diferentes tipos de café

Cafeína pura

A formadora Sandra Azevedo

A minha arte. Feito em parceria com a Isabel do blogue Cinco Quartos de Laranja

Este é daqueles tipo de workshop que todos os amantes do café devem experimentar. Como foi dito na altura, o objectivo é que as pessoas saiam dali com a consciência daquilo que é um café bem tirado. E que possam argumentar isso mesmo com um funcionário de um qualquer café que esteja a fazer mal o seu trabalho. Aproveito também para destacar o trabalho de Sandra Azevedo, o rosto principal desta acção. A Sandra é o exemplo de que vale a pena trabalhar e lutar por algo pois é uma das poucas pessoas de todo o mundo com as suas competências.

Por fim, se houver interesse da parte de alguém, posso saber o que é necessário para organizar um workshop destes. Sendo que o oito é o número máximo de pessoas que podem estar presentes nesta acção da Academia do Café.

liga aí ao tio

“Avó, chega aqui se faz favor”, disse a minha sobrinha. A minha mãe lá foi ter com a pirralha, que estava a ver televisão. Não estava a ver desenhos animados nem nada do género. Estava a ver anúncios. Mais especificamente a publicidade televisiva do Nenuco Dorme Comigo. “Liga aí ao tio que vou pedir-lhe isto para os meus anos”, acrescentou. A minha mãe soltou uma valente gargalhada. Acabando por me contar o episódio apenas ontem.

Amanhã, a minha sobrinha festeja o sexto aniversário. E este é apenas mais um dos pedidos que fez. Se bem que tenho de acrescentar que estes pedidos são momentâneos pois rapidamente esquece quase tudo aquilo que pediu. Excepto duas ou três coisas que são realmente do seu agrado. Destaco ainda o facto dos seus pedidos serem aceitáveis para a sua idade. Não pede coisas excessivamente caras. Deseja brinquedos e pouco mais do que isso.

Estes pedidos são quase sempre uma dor de cabeça para mim. Por um lado, enquanto tio babado que sou sinto-me sempre tentado a dar-lhe aquilo que ela quer. Desde que seja possível, tenho esse desejo. Por outro lado, acho que é importante ensinar a uma criança, desde tenra idade, que nem sempre temos tudo aquilo que queremos. Como tal, por vezes tento dar-lhe algo diferente. Algo que sei ser do seu agrado mas que não foi pedido. Até porque ela fica contente com qualquer presente que tenha para desembrulhar.

Não sou pai. Mas esta tem sido uma dor de cabeça para mim. E confesso que muitas vezes necessito de ajuda para que não ceda ao impulso de dar tudo aquilo que me pede. Até já lhe expliquei que o facto dos pais, avós e tios terem dinheiro para comprar algo naquele momento, não significa que tenham de comprar. Explico-lhe que tem muitos brinquedos em casa e outras coisas que sejam necessárias para que perceba que nem sempre irá ter tudo aquilo que mais deseja.

Como referi, não sou pai. Mas acredito que esta “dor” de cabeça seja constante em quase todas as famílias. Até porque, quando os pais não dão algo, existe quase sempre outro familiar que acaba por ceder aos pedidos dos mais novos. Fazendo com que seja complicado existir uma perfeita sintonia na explicação de que nem sempre se pode ter tudo. Como em tudo na vida, vou aprendendo com estes momentos.

até já

Daqui a alguns minutos vais entrar num avião. Que vai levantar voo rumo ao país onde toda a gente tem direito a uma oportunidade. Pelo menos é aquilo que dizem. Não sei o que levas na bagagem. Mas sei o que esperas encontrar no teu novo destino. A tal segunda oportunidade. E sabes que desejo que encontres aquilo que aqui tem fugido de ti. Quer seja a nível pessoal, profissional ou sentimental.

Conheço-te bem demais para saber que irás fazer amizades com facilidade. Não fosses tu uma menina que facilmente se dá com outras pessoas. Aqui, no “teu” Pai do Vento, na China ou mesmo entre o grupo de fãs daquela boysband de que tanto gostas e de que sabes as letras de cor. Confesso que vou ter saudades das coisas que contavas desse rapazes de quem fingia não gostar só para te irritar.

Já levo alguns anos de jornalista mas posso dizer-te que nunca fui tão amigo de alguém como sou teu amigo. Isto, porque foi no trabalho que nos conhecemos. Isto tudo para dizer que vou ter muitas saudades tuas. Das nossas conversas. Dos teus desabafos. E até das zangas que terminavam sempre da mesma maneira. Com pedidos de desculpa de ambos.

Que sejas muito feliz nesta nova aventura. Que tudo te corra bem. E, não te esqueças de me enviar a camisola oficial dos Los Angeles Lakers. Até te podia dizer até Janeiro mas como isso soa a uma eternidade, prefiro dizer-te até já! Vou ter saudades tuas.  

24.10.13

amigos recomendados

Gosto de acreditar nas pessoas. Sobretudo naquelas que não sendo as nossas melhores amigas merecem uma certa credibilidade. A convivência leva a que assim seja e que as desconfianças sejam atiradas para trás das costas. Com o passar dos tempos, e da convivência, sinto-me mais próximo dessas mesmas pessoas. O que acaba por resultar numa diminuição das defesas pessoais que ajudam a evitar desilusões.

Além disso, gosto de ajudar. Sempre fui assim. Com os amigos. E também enquanto jornalista. Quando sei que alguém quer fazer um trabalho tento ajudar. Ainda mais se conhecer alguém que pode ser útil para isso. Quando assim é recomendo um amigo. No caso do jornalismo, deixo sempre bem claro quais são as exigências desse mesmo amigo para ajudar.

Para quem não conhece o habitual funcionamento de uma redacção, explico que estas exigências normalmente passam pelo anonimato. A maior parte das pessoas aceita ajudar mas sem se envolver. As tão famosas fontes próximas, que muitas pessoas criticam mas que podem ser muito úteis, desde que não sejam mentirosas. E aí cabe ao jornalista filtrar as fontes que tem ao seu dispor.

De um modo geral, é assim que funciono. Mas que provavelmente irei deixar de funcionar. É que isto de recomendar amigos é muito bom. Quando corre bem. E quando os nossos amigos são respeitados, por pessoas em que pensamos confiar. Quando acontece o inverso, serve apenas de lição. É a prova de que “nunca” se conhece alguém como realmente julgamos conhecer. E assim se dá início a um mar de problemas sem fim à vista.  

virgens ofendidas

Sempre tive um encanto especial por virgens ofendidas. Aqui confesso que são pessoas que me fascinam. São indivíduos que conseguem ter o seu quê de interessante. São até capazes de nos deixar a pensar no motivo de tamanha vitimização. Aliás, em momentos mais frágeis até são capazes de nos fazer acreditar que são, na realidade, virgens ofendidas.

Pois bem, mas o que será isto das virgens ofendidas? A meu ver, e mais uma vez é somente a minha opinião, virgens ofendidas são aquelas pessoas que julgam que podem dizer tudo o que querem sobre os outros. Sobre pessoas que não conhecem de lado nenhum mas que criticam de forma gratuita e vazia. Quando o dom da palavra está do lado das virgens ofendidas, tudo é possível. Piadas, ataques supostamente divertidos, sarcasmo (será que sabem o que é sarcasmo?) e outras coisas. Tudo é aceitável.

Até que essas pessoas, as virgens ofendidas, provam do seu próprio veneno. Nesse momento, já não existem piadas, ataques supostamente divertidos ou sarcasmo. Quando provam o veneno que gostam de oferecer aos outros existe somente a falta de inteligência e a má educação. É que os outros não sabem perceber essa coisa do sarcasmo. Falta-lhes inteligência. Já às virgens ofendidas, não falta nada. Quando fazem o que querem, tudo é aceitável. Quando são o motivo da piada, os outros são uma cambada de mal-educados sem inteligência.

Como diz a sabedoria popular, e muito bem por sinal, pimenta no cu dos outros é refresco. Depois, há uma linha que separa as pessoas realmente inteligentes que percebem este ditado das avestruzes que enfiam a cabeça na terra sempre que um plano corre mal ou quando o tiro sai pela culatra.

Gracinha

Gracinha sua pateta, venha cá, temos que falar. Em verdade lhe digo que sei algumas coisas disso de as pessoas serem porcas e brejeiras. Sei que cada pessoa (de ambos os sexos) leva a vida que mais lhe aprouver. A gracinha até pode discordar mas isso não impede que tenha a minha opinião. Que não é uma verdade universal. Lá está, é apenas a minha visão sobre determinadas situações.

Para a Gracinha, pessoas porcas são somente aquelas que não tomam banho, que não se lavam com sabonete e que não usam desodorizante. Gracinha, em verdade lhe digo que existem muitas pessoas que infelizmente não têm acesso a água. Vivem em condições de miséria e não podem tomar o seu duche quente pela manhã. Não podem também recorrer ao sabonete, nem tão pouco têm dinheiro para desodorizantes. Sabe, são pessoas que vivem com pouco. E que utilizam o pouco que têm para se alimentar e muitas vezes para alimentar filhos e restante família. Será que estas pessoas são porcas? Dúvidas, a minha vida são só dúvidas.

Agora, em verdade lhe digo que infelizmente conheço muitas pessoas porcas (de ambos os sexos mais uma vez) que cheiram a perfume, sabonete e desodorizante. Pessoas que andam bem vestidas mas que realmente são porcas. E não me refiro a pessoas que saltam de cama em cama, dia após dia, noite após noite. Como já escrevi por aqui, cada qual sabe de si. Aquilo que abomino são pessoas que contam todos os detalhes da sua vida íntima a pessoas que não conhecem de lado nenhum. Mas isso é chão que já deu uvas e assunto que já foi debatido por aqui. Como alguém disse, só enfia a carapuça da vulgaridade quem quer.

Hoje o assunto é outro, não é Gracinha? Hoje o tema são pessoas porcas. E, em verdade lhe digo que conheço muitos tipos de pessoas porcas (de ambos os sexos. É importante salientar este ponto). A saber: porcas de língua e porcas frustradas. São apenas dois exemplos que em nada têm a ver com a falta de água, sabonete ou desodorizante. Por exemplo, porcas de língua são aquelas pessoas que têm vidas miseráveis mas que passam a vida a mandar bitaites sobre as vidas dos outros. Criticam tudo e mais alguma coisa pelo simples prazer de destilar veneno. Porque na realidade nada fazem a não ser criticar. Pessoas com telhados de vidro mas que fingem não os ter. As porcas frustradas são aquelas que atacam outras pessoas pois é a única arma que conhecem para atenuar as frustrações pessoais que têm. Como modus operandi, estas porcas costumam recorrer ao anonimato e à cobardia. Pois, cara a cara conseguem ser muito fofinhas. Volto a dizer que me refiro a pessoas de ambos os sexos.

Por isso, Gracinha chegue aqui à minha beira. Sente-se aqui perto de mim que não lhe faço mal. Primeiro, vamos despir-lhe essas roupas sujas que lhe cobrem o corpo. Agora, abrimos a torneia e deixamos a água correr. Com água tépida e com um pedaço de sabão macaco vamos dar-lhe um banhinho. Guardamos ainda outro pedaço de sabão macaco. Este serve apenas para lhe esfregar a língua. Banhinho dado. Vamos agora vestir-lhe umas roupinhas. Até podem ser daquelas que adora mas finge detestar. Vá-se lá saber porquê… Agora que está arranjadinha, vamos ali para a beira da lareira. E conversamos um pouco e bebemos um chá, pode ser? Até lhe oferecia sushi mas isso é coisa da moda e a Gracinha detesta modas. Prometo que em poucos minutos lhe consigo mostrar que a vida tem mais cores do que o preto e cinzento que lhe toldam a visão. Sei que isto de nada vai servir. Mas, em calhando, tem um dia diferente antes de regressar ao seu normal. Agora, vá com Deus e acredite que tudo irá melhorar. Mesmo a sua vida.

PS – Só mais uma coisa. Sei que dedica muito tempo da sua vida a ler detalhadamente blogues alheios e que ainda consegue ter tempo para ver as páginas de facebook dos mesmos. Sei que critica pessoas que fazem coisas (independentemente de gostar ou não) e que, pelos vistos, não é nada dada a workshops. Mesmo assim, espero que numa das suas muitas visitas a blogues alheios encontre um voucher para um qualquer curso de interpretação de língua portuguesa. É que, quer-me parecer, tem dificuldades neste domínio. E nem com explicações detalhadas e de pessoas diferentes consegue perceber um tema. Verá que, quando perceber mais da língua portuguesa, o seu humor ficará muito melhor. Não vá dar-se o caso de alguém pensar que é, no mínimo, lerda.

PS2 – Isto são só blogues. É uma frase que leio tantas vezes em tantos sítios. E com a qual concordo. Então, porque será que causam tanta inveja a tantas pessoas. Serão frustrações pessoais? Será impotência? Será inveja? Dúvidas. A minha vida são só dúvidas.  

coisas que não percebo

Existem algumas coisas que não consigo perceber. Parte delas estão relacionadas com o atendimento ao público. Por exemplo, pessoas que tiraram uma senha e que estão à espera do momento em que vão ser atendidas. Aguardam, aguardam, e aguardam. Olham para o número de atendimento. Chegam a respirar fundo porque ainda falta muito. Até que o seu número começa a aproximar-se. Quando falta apenas um ou dois números... afastam-se. Os funcionários começam a chamar outros números. Até que essas pessoas voltam a “gritar” que têm uma senha que já foi chamada.

Ou então outra situação. Frequente na secção de peixe fresco de um qualquer hipermercado, uma das zonas onde o atendimento costuma demorar mais tempo. Existem pessoas que observam a bancada detalhadamente enquanto aguardam pelo atendimento. Olham para o peixe. Aparentemente fazem a sua selecção. E aguardam pela sua vez. Até que chega o momento de serem atendidas. E nunca sabem o que querem levar. Parece que só nessa altura é que estão a ver os peixes disponíveis.

23.10.13

quem manda aqui?

Não me lembro da última vez que joguei futebol num pavilhão onde o piso não seja de relva sintética. Provavelmente terá sido num torneio na margem sul. Onde era costume entrar. Antes disso, tenho que recuar até à altura em que estudava no secundário para recordar jogos frequentes em pavilhões. E não eram uns jogos quaisquer. Eram duelos semanais entre alunos e professores. Algo especial.

De um lado, os homens que nos davam aulas. Aqueles que mandavam. E que, em alguns casos, nos expulsavam das aulas. Do outro, os putos. Que passavam a semana a seguir as regras impostas pelos professores. Os rebeldes. Quase todos aspirantes a jogadores de futebol. Porém, durante aquela hora não havia diferenças. Não existiam professores nem alunos. Não existiam senhores professores. Não existiam tratamentos por você, coisa inexistente no futebol. Naquele rectângulo, todos se tratavam por tu. Eles, queriam mostrar que nos podiam ensinar mais coisas do que a matéria leccionada na sala de aula. Nós queríamos mostrar que de futebol percebíamos nós. Eles aproveitavam para nos dar umas caneladas sem que isso originasse um processo disciplinar. Nós aproveitávamos para umas cargas de ombro mais fortes, sem que recebêssemos ordem de expulsão.

Em comum, ninguém queria perder o jogo. Recordo grandes duelos. Relembro a alegria dos professores quando nos conseguiam ganhar um jogo. Relembro também a azia que sentiam quando perdiam. Refilavam uns com os outros e passavam a semana a levar connosco. É que nós, tínhamos sempre os nossos clubes para esquecer a frustração da derrota. Já eles, tinham que levar connosco quando perdiam. Ou andavam de peito feito sempre que nos ganhavam. A prometer mais para o próximo jogo.

Mentia se dissesse que não tenho saudades desses jogos de futebol. Porque tenho. Tenho saudades daquelas picardias saudáveis. Aliás, jogo de futebol para mim tem de ter picardias saudáveis. E sede de vitória. Não concebo um jogo de futebol como uma hora para correr e queimar tempo. Para isso, corro e não jogo futebol. E tenho saudades dos gritos no balneário. Vamos mostrar quem é que manda aqui, dizíamos uns aos outros. Nós, um grupo de putos que queria somente calar os professores. Sobretudo aqueles de quem não gostávamos nada.

Hoje vou voltar a jogar num pavilhão. Sei que assim que entrar no pavilhão irei recordar aquilo que conto aqui. Vou imaginar-me ao lado dos meus amigos. Vou recordar-me de um golo específico. Mas rapidamente irei pensar no motivo pelo qual estou ali. Rapidamente vou ser conquistado pela sede de vitória. E uma coisa é certa. Irei ser acompanhado pelo "vamos mostrar quem é que manda aqui", frase que sempre me acompanhou no desporto e uma boa companheira motivacional.  

is this love? (capítulo sete)


Acabava de ser escoltado pelos seguranças até à saída do aeroporto. O desespero que revelava, e que facilmente se percebia ser real pois nem o melhor dos actores do mundo conseguiria reproduzir, de forma falseada, tal sentimento e frustração, ajudou a que os seguranças se limitassem a acompanha-lo até à porta do aeroporto. Noutras condições, estaria à espera da polícia para resolver um problema tão delicado como a invasão a uma zona de acesso condicionado. A que se junta a desobediência. Porém, os seguranças perceberam que não havia pior castigo do que deixa-lo ir à sua vida.

Com o corpo pesado, arrastava-se lentamente pela multidão de pessoas que se amontoavam à porta do aeroporto. As suas lágrimas e tristeza passavam despercebidas. Porque aquele local é mágico no que às emoções diz respeito. O seu choro era apenas mais um, no meio de outros tantos. O seu aspecto lastimável era apenas mais um, no meio de tantas pessoas que se despedem de alguém especial e de quem gostam. Em muitos outros locais, seria o centro das atenções. Provavelmente uma alma caridosa até lhe iria perguntar se estava tudo bem. Mas não ali. No aeroporto ninguém estranha as emoções. Conseguiam passar por ele, bater-lhe no ombro sem sequer prestar à atenção às suas lágrimas. Não por descuido. Mas por ser algo normal ali.

Num dos poucos momentos em que levantou a cabeça reparou que chovia copiosamente. Nesse instante percebeu que esse era o motivo pelo qual tantas pessoas se aglomeravam à porta do aeroporto. Mesmo assim, continuou em direcção ao carro. Num passo lento. O carro não estava muito longe. Mas a lentidão a que se movimentava era suficiente para que a chuva o deixasse encharcado até aos ossos. E ainda mais pesado. O que tornava o passo ainda mais lento. Num raro momento de lucidez, chegou a desejar que toda aquela água lhe lavasse a alma. Em vão. A tristeza teimava em domina-lo. Além disso, culpava-se de tudo. Sobretudo de não ter tentado impedir a viagem dela mais cedo.

Chegado ao carro reparou que tinha uma multa no vidro. Dentro de um daqueles sacos de plástico que impedem que o papel se desfaça com a chuva. “Tudo a ajudar”, foi o que pensou. Se bem que aqueles sessenta euros eram a menor das suas dores de cabeça. Foi a pensar nela. E na forte hipótese de nunca mais a ver que deixou o corpo deslizar pelo carro. Acabando sentado no alcatrão. Encostado à roda dianteira direita do seu carro. Nesse momento já era o centro das atenções. Não pela sua tristeza. Mas por estar à chuva como quem está na praia num dos mais bonitos dias de Sol de sempre.

Com a roupa colada ao corpo e com os all-star vermelhos ensopados ali ficou. E ainda com a multa, já fora do saco que a protegia, nas mãos. Enquanto o papel se ia desfazendo à velocidade das fortes gotas que a molhavam ele pensava nela. No seu sorriso. Nos erros que cometeu. E no erro crasso de ter deixado partir, para bem longe, o seu grande amor. Aliás, o seu único amor. Num gesto infrutífero passou com a mão esquerda no rosto para limpar a água. A chuva era tanta que antes de retirar a mão da face já estava novamente molhado. Ainda mais molhado do que se tivesse acabado de tomar um duche.

Porém, ao passar com a mão no rosto notou que várias pessoas olhavam para si. Tinham os olhos fixados em si. Sem que ele percebesse porquê. Para ele, não havia motivo para que olhassem para si. Não tinha o discernimento necessário para perceber que estava há vários minutos sentado no chão debaixo de uma forte chuvada que assustava a maior parte das pessoas que se refugiava da água à porta do aeroporto. Ao reparar no grupo de pessoas que tinha à sua frente notou que algumas olhavam noutra direcção. Existiam os que o observavam. E aqueles que olhavam noutro sentido.

Curioso, moveu a cara ligeiramente para a sua esquerda. Sem levantar o rosto, pouco mais observava do que o pavimento. Os seus olhos não observavam nada fora do normal. Não conseguia perceber para onde olhavam as pessoas. Até que notou algo diferente. Duas malas pousadas no chão. Onde a chuva batia como uma onda que morre numa rocha, fazendo nascer um vasto número de salpicos. Entre elas, umas lindas pernas. Que pareciam imunes a toda aquela água. E uns lindos sapatos vermelhos. Que começavam a mudar de tonalidade tal era a água aglomerada nos mesmos.

Subiu um pouco a cabeça. E os olhos puderam observar tudo. Era ela. Que tal como ele estava ali à chuva. Era mais uma pessoa que o observava. Com a diferença que tinha o cabelo completamente colado à cabeça, algo motivado pela chuva. Tal como ele, tinha as roupas coladas ao corpo. Algo que definia uma linda silhueta. Capaz de encantar qualquer homem. No rosto, destacava-se o negro. Da maquilhagem que tinha sido estragada pelas gotas de água. Ela chorava. Mas ele não conseguia distinguir as lágrimas da chuva.

Descrente no que via e pensando ser um truque da sua mente, olhou no sentido oposto. Contou até três. E voltou a olhar para o local onde julgava que a tinha visto. E lá estava ela. Nesse momento percebeu que não se tratava de uma ilusão. Era real. Ela estava ali. Não tinha entrado no avião. Lentamente, levantou-se. E caminhou na direcção dela. Com o medo de alguém que está perdido num deserto e acredita ter visto um oásis. Quando chegou perto dela colocou as suas mãos nas dela. E só aí teve mesmo a certeza de que tudo aquilo era real. “O que estás aqui a fazer?”, perguntou-lhe. “Fui incapaz de entrar no avião”, respondeu ela. “Porquê?”, insistiu ele. “Porque...”