14.3.14

fiquei com saudades

Ontem, ao ver o jogo do Benfica, bateram-me as saudades. Quando vi o Luisão jogar golfe no festejo do seu primeiro golo, recordei um dos momentos de que mais gostava quando jogava futebol. E refiro-me aos festejos dos golos. Tal como o Luisão, também era defesa-central. Mas tinha quase sempre algo pensado para a eventualidade de marcar um golo.

É verdade que existem festejos que são fruto do momento. Ou até marcados pelas incidências dos jogos que estão a decorrer. Mas, boa parte deles estão pensados no momento em que o jogo começa. Até existem alguns, quando envolvem mais pessoas, que são ensaiados previamente, ao longo da semana.

Apesar de ser defesa, joguei futebol durante muitos anos. Em boa parte deles, era um dos marcadores de livres directos e de grandes penalidades. Isto, permitiu-me marcar mais golos do que é comum num defesa. E isso permitiu-me muitos festejos. Dos mais tradicionais aos mais parvos e até com um polémico que me ia valendo uma carga de porrada.

Entre os mais clássicos, estão os beijos na aliança, o coração feito com as mãos, a camisola que se despe e os abraços a alguém especial que assiste ao jogo. Coisas que fiz várias vezes. Mais fora do comum, existe o “cão” que urina na bandeirola de canto, a camisola que se despe e que se pendura na bandeirola de canto que é arrancada do seu lugar e abanada bem lá no alto.

Mas há mais. A chuteira que se descalça e que lá lugar a um telemóvel. A chuteira que se descalça, ficando-se a olhar para ela. O mergulho no chão, mesmo que seja num campo de areia, desde que seja em dia de chuva. Os alongamentos que se fazem na bandeirola de canto depois de marcar o golo. As mãos nos ouvidos. O dedo na boca que pede silêncio. Perder o equilíbrio, estando sempre a cair. Estar deitado no chão, apoiado no cotovelo como alguém que posa para uma revista. Apontar para o número da camisola. E, depois de um período de azar, as mãos que percorrem o corpo da cabeça aos pés como que a sacudir aquilo que de mau nos tem acompanhado. Mais uma vez, fiz de tudo um pouco.

Depois, existem as coreografias de grupo. Os quatro que se juntam a jogar matraquilhos, acabando com um golo imaginário. Aquele que engraxa a chuteira do que marcou golo. A pistola imaginaria que vai matando todos os membros da equipa, ficando apenas em pé aquele que marcou golo. O lutador de boxe imaginário que se desvia de toda a equipa enquanto treina os seus murros. A dança tribal em volta de quem marcou golo, acabando com todos no chão. Coisas que fiz ao longo dos anos.

O único festejo polémico que tive, aconteceu num jogo em que joguei no campo de uma equipa que ia descer de divisão. Estava a marcar um avançado que era daqueles jogadores que compensa tudo aquilo que não sabe fazer com a bola com problemas. Ao longo do jogo pontapeou-me, deu-me cotoveladas, rasteirou-me e até me cuspiu. Até que as coisas mudaram. Passei eu a atacar e ele todo contente atrás de mim, nos cantos a favor da minha equipa. Ele sempre a mandar bocas mas teve azar porque marquei golo quando ele me estava a marcar. Depois do que tinha sofrido, o meu primeiro instinto foi fazer um dois com os dedos e apontar para baixo, como quem diz vais descer de divisão enquanto nós vamos ser campeões. Errei porque o que era um momento de alívio contra um jogador parvo (do estilo vais descer porque pessoas como tu não têm lugar aqui) transformou-se em algo contra uma equipa e adeptos. No final do jogo esteve quase tudo a descambar mas acabou em bem.

Acredito para quem viu aquele jogo e nunca mais me viu jogar, tenha ficado com a ideia de que sou um atrasado mental que não sabe ganhar. Mas, foi a única vez que fiz aquilo e arrependi-me do que fiz. Foi um momento de alívio por ter estado tanto tempo a conter-me para não dar troco ao outro jogador, acabando expulso. Este é o único festejo de que me arrependo.

Existe um festejo, que é muito comum mas que raramente fiz, por considerar ser o mais especial de todos. E que passa pelo beijo no emblema do clube. E não o fiz por uma razão muito simples. Para mim, só se beija o emblema do clube quando se sente. Não se faz só por fazer. Gostei de todos os clubes onde joguei mas, aqueles que me dizem mais foi onde marquei menos golos. Por isso, os beijos foram poucos.

Além disso, todos os meus festejos acabavam da mesma forma. A apontar para os meus pais, mulher e irmã e a bater com a mão no coração. Era a forma que encontrava de os compensar por me acompanharem para todo o lado, fizesse sol ou chuva, estivessem 30 ou -3 graus, fosse o jogo a 20 ou 200 quilómetros de casa. E pensar nisto deu-me vontade de voltar a jogar…

10 comentários:

  1. Sempre tive curiosidade em saber como seria a vida de um futebolista.
    A vida, mas, fora do dinheiro, ou da fama que alguns alcançam.
    Não sei porquê, mas sempre me deu a sensação de haver ali uma certa tristeza. O ter que "beijar" um emblema, que na maioria das vezes apenas significa dinheiro. O lugar onde se vive depender de um contracto. Ter que "carregar" com a família para outras cidades, ou até mesmo outros países, sem ser permitido a criação de muitas raízes. Não sei, mas tudo isso sempre me fez confusão. Suponho que só quem traz o futebol no sangue consegue entender.

    Bom fim de semana.
    Abraço

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    1. Acredito que existam jogadores contrariados. Eu, ganhei muito pouco dinheiro com o futebol. Por isso, joguei sempre pelo prazer de jogar. Mas, para mim, beijar um emblema é algo especial. Tal como nunca aceitei jogar em clubes com os quais não me identificava.

      Boa semana!

      beijos

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  2. Ficámos...
    E como nota, posso acrescentar que também fui central e por fim joguei a 6.

    Um abraço

    PS: fui e serei eternamente um "Ganso".

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  3. Fiquei a conhecer muitos gestos que não imaginava.
    Quanto a ti, o que dizer?
    Gosto da tua forma de ser e estar.

    Beijinho

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    1. Existem festejos tão parvos mas tão divertidos :)

      Obrigado

      beijos

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  4. Uau que máximo! Conseguiste fazer-me sorrir a imaginar tantas situações de festejo!!! Muito bom!
    Ao fazeres aquele festejo com os dedos na direcção do tipo parvo só me fizeste lembrar o JJ a fazer o 3 com os dedos na direcção do outro ontem eheheh. Ok, pronto, momentos um pouco menos felizes, vá! :)))

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  5. Por acaso os festejos é coisa de muitas vezes me fazerem rir. Porque há alguns verdadeiramente engraçados!

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    1. Há festejos fantásticos.

      Esqueci-me de um muito giro e dos que mais adoro. É ir para a bancada e sentar a bater palmas ao próprio golo :)

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