um aplauso para ti que és um grande homem

Num passado recente vi o vídeo onde Luís Franco-Bastos imita na perfeição 35 vozes em poucos minutos. Foi o mote para o entrevistar. Procurei o seu email, iniciei conversa com o seu agente e poucos dias depois estávamos à conversa. Não sabia o que ia encontrar. Conhecia a pessoa que ouvia na rádio, não sabia quem era a pessoa que ia entrevistar. Seria a mesma ou uma besta com a mania de que é vedeta? Esta dúvida ficou desfeita no segundo em que nos cumprimentámos.

Foram feitas diversas fotos. Depois, estivemos largos minutos à conversa, enquanto ele devorava uma tosta e eu bebia um chá. Foi uma das melhores entrevistas que fiz nos últimos tempos. E digo isto, no sentido em que a conversa correu de forma natural, servindo também para eu conhecer o motor criativo que está por trás das vozes que imita. No momento de passar a entrevista para papel tive de cortar, infelizmente, grande parte da nossa conversa. O meu objectivo passou a ser passar a mensagem certa para o convidado. Quando recebi um email do agente, percebi que tinha sido bem sucedido.

Antes disto, no final da nossa conversa, Luís Franco-Bastos fez questão de convidar a equipa para assistir ao seu espectáculo. Pediu desculpa por não poder convidar para dia oito, porque já estava esgotado, oferecendo convites para o dia seguinte. Que foi ontem. E lá fui eu, curioso para saber como seria esta importante actuação, que representa um marco na sua carreira. Apenas um de muitos, acredito. Sala lotada. 800 pessoas no Cinema São Jorge.

Apenas cinco minutos depois da hora, Luís Franco-Bastos entra em palco, de cerveja na mão. Ao ver toda aquela gente aplaudir a sua entrada soltou um espontâneo “foda-se” que, não sendo sonoro, foi perceptível nos seus lábios. Seguiu-se mais de uma hora de um humor extraordinário onde LFB aliou as vozes que imita a textos escritos apenas por si. Para quem pensa que só imita vozes, este é um claro exemplo de que faz muito mais do que isso. Algumas das piadas tiveram por base experiências pessoais e viagens que fez ao longo dos últimos dois anos.

Durante aqueles minutos ouviram-se assobios, muitas palmas e ainda mais gargalhadas, acompanhadas de lágrimas de alegria. LFB brilhou naquele palco como se nunca mais lá fosse meter os pés. Colocou toda aquele gente em êxtase. Até que no final do espectáculo dirige-se ao público, começando por dizer que não se tratava de uma piada. Preferia que fosse, mas não era, disse. Foi nesse momento que confessou que a sua mãe tinha morrido horas antes do primeiro espectáculo, deixando a sala sem reacção.

LFB disse também que não quis cancelar os espectáculos porque a sua mãe era a sua fã número um. E, se o fizesse, também ele morria naquele momento. Falou sobre a mãe, contou histórias dela, deles, naquilo que, para mim, foi uma forma de lidar com a dor que estava a sentir. Disse também que aquele que deveria ter sido o melhor fim-de-semana da sua vida, acabou por ser o pior. Mas, agradeceu o facto de ter partilhado aquela dor com as pessoas que lotaram, em dois dias seguidos, o cinema São Jorge.

Não sei o que teria feito no lugar de Luís Franco-Bastos. O que sei é que é preciso ser uma pessoa extraordinária para conseguir fazer rir centenas de pessoas quando só se deve ter vontade de chorar. Até há alguns dias, conhecia o talento deste jovem humorista. Quando o entrevistei, conheci um pouco mais do que é. Ontem, fiquei a saber daquilo que é feito. Sem dúvida, um grande homem. E aposto que a sua mãe, onde quer que esteja, estará orgulhosa de si. Como ele disse, a esta hora deve estar a dar umas palmadas do Steve Jobs por este ter inventado o iPhone que tanto tempo roubava ao seu filho.

Dia 21 de Março, Luís Franco-Bastos vai estar no teatro Sá da Bandeira, no Porto. Os bilhetes estão quase a esgotar. Aproveitem e acompanhem de perto este grande talento. Não se vão arrepender.