30.7.14

a fama e os outros

Ontem chegou-me à redacção o último álbum de David Bisbal. Poderia ser apenas mais um disco mas é especial. Porque se trata de uma pessoa que recordo de forma diferente. Já tive a oportunidade de estar à conversa com este cantor, cujo talento admiro desde a Operação Triunfo, em duas ocasiões. E um dos benefícios da profissão que escolhi é poder conhecer melhor pessoas com quem provavelmente nunca falaria.

Já perdi conta às pessoas que entrevistei. Mas não perdi conta aquelas que recordo. E esse leque é muito reduzido. Porque existem pessoas que acham que são estrelas mundiais quando, assim que chegam a Badajoz, ninguém sabe quem são. Existem pessoas que têm 2312 imposições para conversar. Existem outras que chegam horas depois da hora marcada para a conversa ou que nem aparecem, sem justificação. Existem aquelas que se acham superiores a quem as entrevista e as que acham que os entrevistadores são burros e que só devem fazer as perguntas que desejam ouvir, tipo pau mandado.

Depois, existem os outros. Aqueles que são realmente famosos. Que são (re)conhecidos em diversos países e que são as pessoas mais normais do mundo. Pessoas sem tiques de fama que falam com os jornalistas como se estivessem a falar com um amigo, quando existe essa confiança que se conquista durante a conversa. E o David Bisbal é uma dessas pessoas. Tratou-me como se me conhecesse há anos. E não existiram tabus na conversa. Deu-me liberdade para abordar todos os temas apesar de uma das conversas ter acontecido numa altura em que a sua separação fazia correr muita tinta em diversos países.

Outro destes exemplos é James Morrison, que tive o privilégio de entrevistar em Barcelona. Artista que vende milhões de álbuns e que não tem um quinto dos tiques de vedeta de algumas pessoas que apareceram cinco minutos a fazer figuração num qualquer programa português. Mais uma vez, todos os temas podiam ser abordados e não era necessária a presença de dez pessoas a ouvir a nossa conversa e a fazer sinais para que não me respondesse a isto e aquilo. Além disso, ainda fez questão de reforçar o convite para estar presente num concerto que ia dar nessa noite num clube de jazz em Barcelona onde só estariam cerca de cinquenta pessoas, uma das experiências que mais destaco dos anos que levo nesta profissão.

Não sou jornalista há muitos anos. Mas, a caminho da primeira década, já percebi que o conceito de fama em Portugal é completamente oposto ao seu verdadeiro significado. E, quem pensa que a tem, não tem e provavelmente nunca terá. Quem a tem, não faz dela bandeira e não recorre a ela para se fazer maior (e mais importante) do que verdadeiramente é.

12 comentários:

  1. É a velha historia do ser e do parecer... para sermos não precisamos de ter nem de parecer. Ao contrário de quem não é, que precisa de artificios e ostentar para parecer que é...

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  2. Agora fiquei curiosa com o disco do David Bisbal...

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  3. Uma pessoa simples e formada quando se encontra em "estado de fama" continua a ser a mesma pessoa.
    Agora uma mal formada, sobe a fama á cabeça e fica como todos sabemos...
    O problema não está na fama, mas na má ou boa formação das pessoas.
    Bjnhs,
    CL ou VW

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  4. Não sou jornalista e não tenho a experiência de lidar com pessoas famosas e pessoas pseudo-famosas, para poder falar com conhecimento de causa, mas o que escreveste faz todo o sentido e imagino que seja verdade. Por outro lado, há algumas pessoas famosas que o são em muitos países e há muitos anos e que são conhecidas também por terem mil e uma exigências mirabolantes para atuarem em determinado sítio e, pela lógica, devem ter também as suas esquisitices em relação a entrevistas. É um palpite, pois, como disse de início, não tenho qualquer experiência na matéria.

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    1. Da experiência que tenho posso dizer-te que já tive muitas imposições com figuras nacionais e poucas com figuras internacionais. Não digo que não existam mas noto que muitas pessoas cá são afectadas pela fama.

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  5. Ohhh o David Bisbal e a Operação Triunfo... que saudades!! :) Sempre o considerei super fofinho (aqueles caracóis, ai) lol e muito simpático! O James Morrison é aquela base, dos meus cantores favoritos. É o que eu costumo dizer, Portugal é o país dos "wanna be" com a mania, mas que na realidade não são nem nunca hão-de ser nada.

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    1. É um rapaz cinco estrelas. E o James Morrison parece um amigo lá da rua que se conhece há anos. Cá existem muitos que pensam que a fama é eterna e que meio mundo não vive sem eles.

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  6. Sangue espanhol a correr-me nas veias, sou fã do Bisbal desde que ele abriu a boca a primeira vez na OT e essa, por acaso, é mesmo a ideia que tinha dele.. obrigado por confirmares :p

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