2.12.15

é este o verdadeiro motivo da divisão entre as mulheres reais e as irreais

A discussão em torno do corpo ideal de uma mulher é capaz de ser uma das discussões mais antigas de sempre. A título de curiosidade, em Abril de 2014 fiz um este texto com base num top das mulheres mais sexy do mundo. Ainda hoje recebo comentários neste texto onde continua a debater-se o assunto. E a verdade é que o tema será sempre actual.

Nos tempos mais recentes recordo-me de ler uma notícia sobre Sara Sampaio e de ter lido um comentário onde se passava a ideia de que não representa a mulher portuguesa porque não tem gordurinhas. Ou seja, para aquela pessoa a mulher portuguesa tem necessariamente de ter gordura. Ao longo dos tempos também já partilhei no blogue diversas imagens que geraram polémica. E quase todas estão ligadas a manequins. Que quase sempre são acusadas de não ter um corpo real.

Apesar de não concordar com a distinção mulher real/mulher irreal, por considerar que todas as mulheres são reais, entendo que esta separação está muito associada, e de forma errada, às manequins. Muitas pessoas entendem que as modelos não têm um corpo que represente um ideal de beleza. Não concordo com esta ideia. E entendo que o problema não está nas manequins nem nas mulheres magras e de corpos tonificados. Tal como não está nas mulheres que optam por não treinar e que se sentem bem com o corpo que têm. Há quem se empenhe em treinar. Há quem prefira ficar no sofá sem treinar. São opções que não anulam a realidade do corpo nem merecem ataques de parte a parte.

O problema é outro. A culpa é outra. O photoshop, ou quem utiliza o mesmo de forma excessiva, é que tem a responsabilidade maior nesta guerra dos corpos perfeitos. E um exemplo real da minha ideia é Kim Kardashian que recentemente partilhou nas redes sociais uma imagem de uma produção ousada. Pouco tempo depois surge a imagem real, sem retoques no programa de edição de imagem. E na imagem real encontra-se uma mulher diferente, mesmo dando o desconto de uma das imagens (um frame retirado do programa da família) ter um ângulo ligeiramente diferente. Com uma cara menos magra, com um rabo diferente e com uma barriga menor (as duas imagens podem ser vistas aqui).

É por isto que culpo o photoshop desta guerra feminina que divide mulheres. E as manequins não têm culpa disto. Até porque não são elas que mais recorrem a este programa para alterar o corpo e “vender” a imagem de um corpo que não é o seu. São outras mulheres, como acontece de forma recorrente com Kim Kardashian, que são seguidas por muitas mulheres mais novas, que são viciadas em photoshop e que quase que não partilham nenhuma imagem nas redes sociais sem que tenha sido tratada, de forma exagerada, no famoso programa.

São estas imagens alteradas que passam a ideia de um corpo que não existe. E não uma qualquer publicidade com uma qualquer manequim com um corpo magro e atlético. Considero muito mais perigoso, isto no sentido de influenciar pessoas, partilhar uma imagem do dia-a-dia completamente retocada (apesar de se fingir que não) do que ver uma publicidade ou mesmo uma produção fotográfica em que a edição não vai além da normal e recorrente suavização da pele e eliminação de sombras. E este perigo conduz a outro. É que milhões de pessoas olham, por exemplo, para a imagem de Kim Kardashian e ficam maravilhados com aquele corpo que assumem como real mas rapidamente criticam uma publicidade que tem uma mulher magra cujo corpo não foi alterado na edição de imagem.

Por tudo isto considero errado discutir quem é a mulher mais real: se a magra ou se a gorda. São todas reais. A verdadeira discussão deveria ser o abuso da edição de imagem. Porque é esta que influencia as mentes de tantas adolescentes que cometem pequenas loucuras para querer ter um corpo que idolatram mas que não existe. É por isto que nos dias que correm fala-se do photoshop como se fosse obrigatório. Enquanto jornalista já perdi conta ao número de pessoas que “exigem” o uso de photoshop nas suas imagens.

E é também por isto que tantas pessoas ficam desiludidas quando se cruzam com os seus ídolos na rua. “É tão diferente ao vivo”, dizem. Pode ser que um dia as pessoas percebam que o perigo está aqui, na edição de imagem que propaga uma ideia irreal, e não nas mulheres que treinam diariamente porque querem estar em forma e porque desejam ter um corpo tonificado. Até lá as mulheres magras vão continuar a ser atacadas, mesmo não tendo culpa de nada. Mesmo que não vendam banha da cobra.

8 comentários:

  1. Concordo.
    O corpo das manequins é completamente trabalhado em ginásio e com alimentação adequada. O corpo delas é a sua ferramenta de trabalho, logo tem que ser mantido. E isso não faz com que seja irreal.
    É verdade que para uma mulher não manequim seja difícil atingir aqueles padrões, porque o tempo que têm para treinar não é o mesmo que as modelos têm, mas ambos os corpos são reais, adaptados ao estio de vida de cada uma.

    B

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    1. Mas muitas pessoas não percebem isso e atacam no imediato as manequins ignorando o real problema.

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  2. Era muito bonito se o photoshop só aparecesse em imagens editadas da Kim Kardashian, mas aparece em todo o lado. Não há nenhuma revista de moda, feminina, dirigida a adolescentes que não tenha modelos com photoshop. E sim, cria expetativas irrealistas de mulheres...

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    1. Sim, existe. E não faz mal nenhum desde que sirva, por exemplo, para alterar o fundo de uma imagem, para suavizar a pele ou para corrigir sombras. O pior é quando se usa para manipular o corpo. Pior ainda é quando se usa esta manipulação em fotos que se "vendem" com pessoais e naturais. Acho que o grande problema das tais expectativas passa por aqui.

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  3. Concordo contigo, sem dúvida, e esse exagero por vezes não leva a bons resultados.

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  4. Não podia concordar mais. É mesmo a edição de imagem e não as manequis ou x/ y mulher. Porque quem impõe determinada imagem é a comunicação social e a publicidade. -.-

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