25.1.16

portugal com tino (abstenção e não só)

Existem vários dados, em relação às eleições presidenciais, que podem ser analisados em separado. A começar, a esmagadora vitória de Marcelo Rebelo de Sousa. Acredito que poucas pessoas (se é que elas existem) tinham dúvidas da vitória. A questão era perceber se a vitória seria por muitos ou por poucos. E nem mesmo o facto de ter vencido em todos os distritos consegue ser surpreendente. Não existem dúvidas de que Marcelo Rebelo de Sousa é o Presidente desejado.

Marisa Matias não deixa de ser uma agradável surpresa. O seu honroso terceiro lugar será uma surpresa para algumas pessoas mas não para muitas. E é mais um reflexo do crescimento do Bloco de Esquerda e da influência que vai conquistando aqui e ali, isto depois de ter sido um partido que aparentava estar muito perto do colapso. Acho que Marisa Matias é vista como uma espécie de “sangue novo” na política nacional. O tal sangue novo que alimenta muitas pessoas, sobretudo de gerações mais novas.

O Partido Socialista volta a ser igual a si mesmo, tal como tinha acontecido nas legislativas se bem que aqui não há volta a dar aos resultados. Maria de Belém, a candidata oficial dos socialistas teve um dos piores resultados para um candidato apoiado pelo partido. Existia Sampaio da Nóvoa mas ficou a ideia de que o partido nem sabia muito bem quem apoiar. Uma estratégia diferente, e apenas com um destes dois candidatos, talvez tivesse um resultado maior. Na onda das desilusões está também Edgar Silva, um dos piores candidatos (tendo por base os números) apoiado pelo PCP.

Depois existe aquela que para mim é a grande surpresa da noite. E refiro-me a Vitorino Silva, o afamado Tino de Rans que conseguiu ser o sexto candidato mais votado, com 3,31% dos votos, ou seja, pouco mais de 150 mil votos (Edgar Silva teve mais de 177 mil). Durante parte da noite especulou-se que Vitorino Silva ficaria mesmo à frente do candidato do PCP e, por exemplo, no Porto teve 5% dos votos, batendo inclusivamente Maria de Belém.

Neste texto já tinha dado a minha opinião sobre Vitorino Silva. Volto a dizer o mesmo pois considero que tem muito para dar à política e este resultado, tendo em conta a fraca mediatização da campanha, revela isso mesmo. Com o certo polimento político Tino pode vir a dar muito que falar. Sempre que digo isto aparecem pessoas que dizem que Vitorino Silva é “burro” e que, por exemplo, nunca poderá ser Presidente. Quando digo que Vitorino Silva pode ser importante na política não significa que defenda que vá ser Presidente da República ou Primeiro-Ministro. Mas a política vai muito além destes dois cargos. E é nesse sentido que digo que Tino de Rans, um homem do povo que poucas pessoas levam a sério, pode ser muito bem aproveitado politicamente. E com ele chegam muitos votos.

Por fim a abstenção. Mas esta já não me surpreende em Portugal. Somos um País de inconformados. Mas inconformados de café e de discussões com amigos. Todos sabemos o que está mal em Portugal. Todos sabemos o que deveria ser feito. Todos discutimos política com amigos. Até que surge a pergunta: “votaste para mudar algo?” e a maioria das pessoas perde qualquer argumento quando a única resposta que tem para dar é “não fui votar”.

10 comentários:

  1. eu pouco ligo à politica, mas vou sempre votar, não gosto que decidam por mim.

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  2. A vitória de Marcelo Rebelo de Sousa era quase certa, assim como a abstenção. Quando fui votar, eu era a única pessoa com menos de 50 anos! A maioria dos jovens considera a liberdade como garantida e não sabe o valor de poder votar!

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    1. Muitas pessoas não têm noção do que significa ter liberdade para votar. E não percebem o que estão a desperdiçar.

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  3. Confesso que os resultados não me surpreenderam nada e não podia concordar mais com o último parágrafo deste texto, pois como sempre ouvi dizer e concordo "quem não vota, não opina".

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  4. não votar pode ser uma maneira do povo dizer que não acredita na classe política de um país!É claramente o que acontece em Portugal!

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    1. É uma leitura. Mas não votar impede que se critique o que quer que seja porque não se participa na solução. Por exemplo, e neste caso específico, ninguém se revê em nenhum dos 10 (o maior número de sempre) candidatos?

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  5. As pessoas que não votaram não deveriam ter direito a refilar. Que tristeza. A abstenção dava para eleger um candidato como Presidente...

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