20.6.17

ainda sobre os incêndios

Enquanto jornalista sempre me fez confusão a forma como as pessoas olham para as diferentes áreas do jornalismo. A começar pela forma como entendem que as regras são diferentes. Quando na verdade todos os jornalistas têm o mesmo código deontológico. Se o seguem ou não é um tema diferente. Mas todos os jornalistas, quer seja do jornalismo visto como mais sério até ao mais leve, devem seguir as mesmas regras.

Nunca percebi porque é que as pessoas olham, apenas para dar um exemplo, para o jornalismo social (visto como cor-de-rosa) como o elo mais fraco do jornalismo. Compreendo que algumas pessoas não gostem do que esta área trata. O que não invalida que não se consiga distinguir entre bom e mau jornalismo. E por mais que custe a acreditar, existe muito bom jornalismo nesta área. O que se passa é que tende a ser inconveniente para muitas pessoas. E isso faz com que seja visto como falso. Apesar de ser muito verdadeiro. E até ser simpático para muitas figuras públicas nacionais.

Pegando agora no exemplo do desporto. Nesta altura do ano existem largas dezenas de jogadores que são anunciados como reforços deste ou daquele clube. Muitas destas notícias são plantadas. Mas ninguém olha para as mesmas com desconfiança. Pelo contrário. As pessoas olham para as notícias e acreditam imediatamente. Ficam todas felizes porque o seu clube vai ter o reforço Y. Que nunca chega. Porque nunca esteve para chegar. Mas as pessoas nem se preocupam com isso. Foram iludidas e não se importam. Porque entretanto está para chegar outro. Que também não chega.

Daqui salto para os incêndios. Que consomem boa parte dos noticiários dos últimos dias. Com muita pena minha. A cobertura dos incêndios também tem jornalismo para todos os gostos. Coisas bem feitas. Coisas muito bem feitas. E coisas péssimas. Que curiosamente costumam ter mais audiência. Mas felizmente isto começa a mudar. As pessoas começam a distinguir as coisas. E a ser bastante críticas em relação aquilo a que assistem. E a cobertura do incêndio de Pedrógão Grande foi palco de um infeliz momento que está a ser partilhado nas redes sociais.

Estamos a falar de uma pessoa que viveu uma tragédia. E que nessa altura pediu aos "colegas jornalistas" que respeitassem a sua dor. Mas que faz uma reportagem (algo que demonstra planeamento) ao lado de um cadáver de uma mulher. Como se fosse esse detalhe que desse sentido à peça. E que leva as pessoas a colocarem a questão: "Está a respeitar a dor da família daquela mulher?". Episódios como este deram origem a um comunicado para relembrar a forma como os jornalistas devem cobrir uma tragédia destas.

Felizmente existem cada vez mais pessoas atentas a esta realidade. E que a criticam. Depois existem outras que acham a coisa mais normal do mundo. Que não tem mal nenhum. E aqueles que aceitam apenas para este ou aquele meio. Quando isto não deveria ser aceite por ninguém. Nem deveria ser feito por ninguém. E aconselho, a quem ainda não viu o vídeo, o momento em que uma jornalista está a entrevistar um morador da torre que ardeu em Londres. A sua reacção quando o homem conta aquilo a que assistiu. E teria sido tão mais simples explorar a dor daquele homem

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