23.10.14

(des)encontros (capítulo dois)


Já passava das nove da manhã quando João chegou a casa. Sozinho, ainda foi à pastelaria perto de sua casa. Hesitou entre tentar pedir um gin, porque lhe apetecia e sentia que ainda estava na noite anterior. Mas, vendo que todos os clientes estavam entregues a cafés, torradas, meias de leite e bolos, acabou por perceber que o melhor era não destoar. Já sentado, com uma bola de berlim e uma Coca-Cola à sua frente, não parava de pensar em Sophia. Porém, sentia que todos olhavam para si, o que o deixava com várias dúvidas. Estaria com um aspecto tão desleixado, que facilmente se percebia que não tinha ido à cama? Ou seria o bolo e a Coca-Cola, o pequeno almoço típico de quem está de ressaca, que o denunciavam? O que é certo é que pouco se importava pois só conseguia pensar em Sophia e no beijo que tinham trocado.  “Como é que a volto a ver?”, era a pergunta a que tentava dar resposta. Sem sucesso.

Em pouco tempo já sacudia o açúcar da boca. E abanava a lata de Coca-Cola na esperança de que caíssem mais umas quantas gotas no seu copo. Perante a quantidade de álcool que tinha bebido, nada lhe sabia melhor do que aquelas duas coisas combinadas. Minutos mais tarde entrava em casa, sendo recebido por Bauer que ansiava por um passeio matinal. “Estou de rastos”, disse ao cão que olhava para ele com um aparente ar de reprovação por lhe ter dito que ia demorar poucas horas. Mesmo estafado, ainda decidiu passear Bauer. “Vamos à rua?”, disse-lhe, provocando uma onda de euforia no buldogue francês. Enquanto estava na rua continuava a tentar responder à pergunta que o inquietava. Sempre sem sucesso. Até que percebeu que o seu estado não lhe permitia ter o discernimento necessário para pensar no que quer que fosse. Aliás, passear Bauer já era uma feito digno de registo.

Mesmo assim, ainda teve a frescura necessária para levar consigo um saco de plástico com que apanhou as fezes de Bauer. Sendo um acérrimo defensor das ruas limpas, não havia bebedeira que o fizesse esquecer as coisas que mais defendia. Voltaram a casa. E, até chegar à cama foi deixando um rasto de roupa. Perto da porta, a camisa. Depois, peça a peça até à cama, onde se deitou apenas com as meias calçadas. Já passavam das cinco da tarde quando acordou. A bola de berlim e a Coca-Cola impediram que a ressaca fosse maior. Mesmo assim, e quando percebeu que estava apenas de meias e que tinha um rasto de roupa à porta do quarto não evitou esboçar um sorriso enquanto esfregava a cara, dizendo em voz alta “estavas bonito ontem”. Seguiu-se um duche e uma mensagem para os restantes guerreiros – era assim que se chamavam quando aguentavam uma noite de copos – da noite anterior a marcar uma hora para estar no café.

Depois do banho, e já vestido, foi à cozinha e abriu o frigorífico onde nada tinha para comer. Andava para fazer compras há dias mas ia sempre adiando. Foi à dispensa onde tinha um frasco de Nutella e duas tabletes de chocolate. “Escolha difícil”, disse, olhando para as possibilidades. Optou pelo frasco de Nutella, que abriu e onde colocou o dedo, que levou à boca cheio de chocolate. Voltou a repetir o gesto mais duas vezes antes de ser consumido pelo peso na consciência. Depois, levou as mãos aos bolsos das calças acabando por encontrar uma nota de dez euros num dos bolsos. O dinheiro foi o mote para seguir para o café, onde comeu uma tosta mista com manteiga, que dispensa quando não está de ressaca, e um sumo natural duplo de laranja, aquilo que considera o segundo take de uma alimentação típica de quem está de ressaca, por mais fraca que seja. Voltou a casa. Ainda se deixou dormir no sofá antes de ir para o café onde se ia encontrar com os amigos.

Ainda ia a andar para a mesa quando ouviu os primeiros comentários. “Bela noite ontem. Desapareceste com a miúda”, disse Revez. “Chama-se Sophia e só estivemos à conversa”, respondeu. “Olha o menino. Já a defende e trata pelo nome. Isto é sério. É amor”, acrescentou Duque, provocando uma gargalhada geral. Até João não evitou sorrir. “Lembro-me de poucas coisas. Sei que ela me beijou mas depois arrependeu-se”, confessou João. “E pouco mais me lembro. Sei que houve uma altura em que lhe perguntei o apelido pois sabia que assim era mais fácil encontra-la mas estava tão mal que nem me lembro do que ela disse. Aliás, ela estava como eu e também não se percebia bem o que dizia”, gracejou. “Agora é aquele momento tipo Ressaca em que vamos aos bolsos à procura de coisas que nos relembrem da noite anterior”, disse João. “Mas eu nem tenho a roupa de ontem e não me recordo de ter colocado o que quer que seja no bolso”, referiu Timóteo. “Puto, estava a brincar. Era para ver se alguém se lembra de algo que me possa ajudar pois gostava de rever a Sophia e lembro-me de que me disse que ia estar mais uns dias em Portugal”, explicou João. “Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhh. Mas não me lembro de nada”, disse Timóteo. “Sei que uma delas me disse o nome do hotel onde estavam mas não me recordo”, revelou Duque. “Não me recordo de nada. Acho que era o pior de nós. Deixei-me dormir em casa a comer um ovo Kinder. Sou um desgraçado”, revelou Revez.

“O nome do Hotel já não era mau de todo”, suspirou João. “Já sei, vou procurar no facebook e no instagram”, disse João. “Vais procurar como?”, perguntou Timóteo. “Pelas hashtags do bar e da nossa zona pois elas fartaram-se de tirar fotografias”, explicou João, agarrando no telemóvel de pronto. A conversa prosseguiu durante vários minutos com João sempre atento ao telemóvel. “Bela merda! Nenhuma delas partilhou uma foto nas redes sociais. Pelo menos com uma hashtag que me permita chegar a elas”, desabafou com tristeza. “Como é que a vou encontrar? Sei apenas que se chama Sophia e que vieram de Dublin”, suspirou.

13 comentários:

  1. Eu podia ser uma dessas pessoas que o observava no café...apetecia-me conhecer o João...
    Gostei muito, mas já vi que vai demorar até um novo encontro entre os dois! Não demores muito, não??? :)

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    1. Acho que toda a gente percebe quem é que ainda não foi à cama ;)

      Será que se voltam a ver?

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  2. E agora?
    Concordo com a Vera... não os deixes muito tempo afastados...
    ou será que, quando menos se espera, encontram-se porque até têm um conhecido em comum?

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    1. Será que se voltam a ver???? Opá Bruno... tens de arranjar maneira de se encontrarem... que tal num ginásio??? Ela ia com as amigas fazer uma aula de zumba... e ele ia "puxar ferro" para ver se não pensava muito nela ;)

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    2. Nem tudo na vida tem um final feliz. E não te esqueças que ela está em Portugal apenas alguns dias.

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    3. Hellooooo??? O 3º episódio vai demorar muito??? Por esta altura ela já nem está em Portugal :P

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  3. Espero que não seja um cliché ;) ela acabar o noivado, desistir do casamento e viverem felizes para sempre.
    Espero algo com um fim inesperado.
    Bom trabalho

    Ana

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