15.1.15

(des)encontros (capítulo quatro)


E ali estava João. Sozinho na mesa de café. “Puto, traz-me um whisky se não te importas. Um Grant´s com duas pedras de gelo, se faz favor”, pediu. Carlitos aproximou-se da mesa, puxou uma cadeira e sentou-se. “Conheço-te e costumas beber mas aqui no café nunca te vi beber mais do café e água com gás. Deixas o álcool para outras ocasiões. Por isso, mais do que a bebida, que não tenho problemas em servir-te e até te ofereço, enquanto teu amigo, acho que precisas de conversar”, disse. “Precisar até preciso mas nem sei o que dizer”, referiu João. “Mulheres”, suspirou.

“E que tal começares pelo principio. Por outras palavras, a tua companhia abandonou-te. Pelo menos é isso que parece. O que se passou?”, perguntou Carlitos. “Vou tentar resumir-te tudo da forma mais simples, tentando não usar muitas palavras mas, podes trazer o whisky à mesma que vai ser uma uma boa companhia. E não te esqueças das duas pedras de gelo”, disse. “Ok”, respondeu Carlitos, que se levantou para ir buscar a bebida para o amigo. Enquanto isso, João mantinha-se com o cotovelo apoiado na mesa e com a mão a percorrer o rosto ao mesmo tempo que repetia a palavra mulheres acompanhada de diversos suspiros.

Carlitos aproximou-se da mesa e bateu com o copo alto de whisky na mesa. “Aqui tens”, disse. “É agora que vais contar o que se passa contigo?”, acrescentou. “Sabes que prefiro em balão. Como é possível que me dês o whisky num copo alto?”, perguntou João. “Olha bem à tua volta. Pensas que estás onde?”, respondeu Carlitos. “Estou a brincar contigo. O que não significa que não prefira beber em balão. Não gosto de beber whisky em copo alto mas como estou na tua casa não faz mal”, disse. “Bem... queres saber o que se passa, não é? Sendo assim vou desabafar e também me liberto desta história que se não for presenciada, e tu acabaste de assistir a um episódio, ninguém acredita nela”, começou por dizer.

“Vou começar por te falar da Daniela que saiu daqui que nem um foguete”, referiu, sendo interrompido por Carlitos. “Porque saiu daqui assim?”, perguntou. “Calma. Já lá chegamos”, disse João. “Para já, posso dizer-te que sempre achei piada à Daniela. Mas também te posso dizer que sempre fui ignorado por ela. Até hoje nunca me ligou nenhuma. Como nunca deu sinal de reparar em mim, nunca liguei muito a isso. Até que me envia uma mensagem a dizer que gostava de estar comigo. Foi por isso que vim aqui ter com ela”, contou. “Até que, para minha surpresa, disse que gostava de mim”, prosseguiu. “Ui! Cena marada”, soltou Carlitos.

“Calma. Isto não é tudo”, disse João. “Na sexta-feira fui sair com o pessoal. E acabei a noite com uma rapariga estrangeira”, explicou. “Define acabei a noite”, pediu Carlitos. “Acabar a noite, neste caso, significa um beijo e muita conversa. Nada mais do que isso”, disse João. “Conheci a Sophia, assim é o nome dela, e fiquei apanhado pela rapariga. Ainda estou a bater mal por causa dela. A noite foi perfeita”, continua. “Até agora parece tudo bom”, diz Carlitos. “Tudo estava bem até ao momento em que me beijou e depois me disse que estava noiva”, disse João. “Ouch!”, gracejou Carlitos. “Não gozes já tudo que isto ainda melhora”, avisou João.

“Acabei a noite a bater mal e fui para casa. Tentei de tudo para me desligar da Sophia mas sem sucesso. Até que recebo uma mensagem da Daniela a dizer que queria beber café comigo. Vê lá o meu desespero que até vi isso como um sinal para esquecer a Sophia”, explicou, bebendo de seguida mais um pouco de whisky. “Pela saída dela daqui acredito que não resultou”, referiu Carlitos. “Até nem estava a correr mal. Tirando dois pequenos grandes pormenores”, acrescentou João. “Como assim?”, perguntou Carlitos.

“Primeiro ponto. A Daniela disse que gostava de mim. Pior, disse que o Timóteo sempre soube que gostava de mim e aquele cabrão não foi capaz de me contar isso. Conta-me tanta merda que não interessa a ninguém e isto escondeu porque ela não queria que me dissesse”, referiu. “E, como se isto não bastasse, ainda lhe chamei Sophia. Claro que ela ficou em brasa. Ainda tentei disfarçar e fingir que tinha dito Daniela mas ela não é parva e percebeu. Resumindo, não sei como encontrar uma. Outra, de quem gostei e que pensava que me ignorava, afinal gosta de mim e troquei-lhe o nome. E assim acabei aqui sozinho na mesa”, concluiu João.

“Mulheres”, soltou Carlitos. “Quem as vai compreender”, disse, ao mesmo tempo que enalteceu uma das suas características. “Parece que têm um sensor que adivinha tudo”, acrescentou. “Vês como me compreendes”, referiu João, acabando com o whisky que ainda tinha no copo. Depois, passou as costas da mão na boca antes de pedir um reforço. "Assim vai a minha vida", soltou em tom de desabafo.

4 comentários:

  1. Os homens têm a cabeça tão complicada como as mulheres... acham-se simples, mas não o são....

    Gostei, gostei deste capítulo, ler uma personagem desde o ponto de vista masculino para mim é muito interessante, é como descobrir um mundo novo e desconhecido para mim, adorei.... mais mais
    ;)
    Besos

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    1. Fico feliz por gostares. Os homens também conseguem ser complicados :)

      beijos

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  2. Está a ser interessante, espero pelo próximo episódio.

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