26.2.15

(des)encontros (capítulo sete)


Já a segunda garrafa de Grandjó estava na mesa e João e Jorge continuavam à conversa. “Não te quero demover desta ideia. Não é esse o meu objectivo mas tens a certeza do que estás a fazer?”, perguntou Jorge. “Estás a referir-te ao facto de me ter despedido ou a tua dúvida diz respeito à viagem à Irlanda para tentar encontrar uma mulher com quem estive numa noite?”, questionou João. “Já que colocas as coisas nessa perspectiva, refiro-me aos dois casos”, referiu Jorge. “Então, e como diria Jack, o estripador, vamos por partes”, gracejou.

“Em relação ao emprego, já me tinhas ouvido queixar vezes sem conta. Estava farto e saturado daquele local. Daquele chefe que nasceu para tudo menos para o cargo que ocupa. Não percebe o que faz e é um mau líder. Se esta situação precipitou a minha decisão? Talvez! Se me arrependo do que fiz? Nada! Já trabalhei em centros comerciais e em muitas outras coisas. Se tiver que o voltar a fazer, irei fazer sem qualquer problema. Mas estou a preservar a minha sanidade mental. Podes criticar-me pela forma como saí. Podia ter feito tudo de outra forma, assumo isso mas sabes como sou”, explicou João. “Sei como és. Adoro a pessoa que és e é por isso que te amo como um irmão. Se estás de consciência tranquila, melhor ainda. Não há nada melhor do que ir para a cama de consciência tranquila. Agora, acabas de sair de um emprego de uma forma que acaba por não te defender financeiramente e queres gastar dinheiro que te pode fazer falta numa viagem que é uma autêntica caça aos gambozinos”, refere Jorge.

“Que queres que te diga? Não acredito no amor. Ou pelo menos pensava que não acreditava. E esta miúda em pouco tempo fez-me sentir vivo nesse aspecto. Fez o meu coração bater de forma inesperada. Roubou-me o ar. Parecia que não conseguia respirar ao mesmo tempo que parecia não ter os pés no chão. Há muito que não sentia isso. Se é isto que me faz querer ir à Irlanda? É capaz de ser. Se acredito que a irei encontrar? Não, porque pouco sei em relação aos espaços onde costuma ir. Se isso me preocupa? Nada. Até porque a cerveja é boa. Gosto da cultura deles. Gosto das pessoas que se juntam nos bares ao final do dia de trabalho. E isso chega-me. Se há coisa que não me preocupa é chegar lá e pensar que deitei dinheiro à rua. Acredito que, mesmo não encontrando a Sophia, irei ficar preenchido com a viagem. Irá ajudar-me a encontrar o meu rumo”, justificou João com um tom de voz onde a seriedade e emoção se misturam.

“Queres que vá contigo?”, perguntou Jorge. Ao ouvir aquelas palavras, João chorou. “Estás a chorar porquê? Estás a dar em sentimental?”, brincou Jorge. “Estou a chorar porque sei que és a única pessoa que me diz isso com sentimento. Sei que se te disser que quero que venhas comigo, tu vens. Ao contrário das restantes pessoas que fazem essa pergunta na esperança de que responda que não e com medo que diga que sim, algo que as levava a inventar desculpas para não ir”, disse João, ainda com lágrimas nos olhos. “Deixa-te dessas merdas que isso não é conversa para mim. Queres que vá? Dizes que sim e preparo tudo em casa pois a tua amizade diz-me muito”, insistiu Jorge. “Não, não quero que venhas comigo. Não te posso pedir que gastes dinheiro quando tens uma filha e um enteado em casa para sustentar. Nem sequer quero que possas ter problemas em casa por minha causa. Será uma viagem sozinho. Mas agradeço-te”, refere João enquanto bate com a mão direita no coração.

“Fode-te com essa conversa. Queres ou não que vá contigo?”, voltou a perguntar Jorge. “Não! Não quero mesmo. Obrigado mas não quero”, respondeu João. “Bem, nesse caso vou ali tratar de uma coisa”, disse Jorge. “Também não é preciso ficares assim. Não quero pelo teu bem. Não acho necessidade que tenhas de gastar dinheiro num devaneio meu. Mas não quero que te zangues comigo por causa da minha decisão”, referiu João, preocupado com a reacção do melhor amigo. “Não sejas parvo. Achas que me vou chatear contigo por causa disto? Vou ao carro buscar o computador para se fazer a reserva da tua viagem. Não queres que vá mas faço questão de te pagar uma das viagens. É o mínimo que posso fazer por ti”, disse Jorge. João voltou a chorar enquanto o amigo se afastava.

8 comentários:

  1. Obrigada por partilhar uma escrita tão cativante ;)

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  2. Li de rajada todos os capítulos e estou a adorar.. Fiquei a desejar saber o que se vai passar.. Digo-lhe já que tem uma escrita cativante. Bjs dos Alpes suíços

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    1. Prefiro ser tratado por tu. Pode ser Sofia?

      Obrigado pelas palavras. Já ganhei o dia!

      Beijos para ti que estás nos Alpes :)

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    2. Pode ser, claro :) são palavras sinceras. Beijinho

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  3. Uauuu... Bruno... estou a gostar do rumo da história! Quero mais... :) E vou à Irlanda com o João, ok? ;)

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