12.3.15

(des)encontros (capítulo oito)


Poucos minutos depois Jorge estava de volta com o computador. Quando se aproximou de João notou que o amigo tinha estado a chorar. “Não me digas que estiveste a chorar por minha causa”, brincou. “Estive”, disse João. “És o irmão que não tenho. O meu melhor amigo. E nunca te conseguirei explicar o que senti quando notei que estavas disposto a viajar comigo caso dissesse que queria a tua companhia. Tal como nunca te conseguirei explicar o que senti quando deixaste claro que tens o desejo de pagar as viagens. Acho que sabes distinguir quando alguém te diz isto de forma sentida ou quando o fazem porque fica bem. Gosto muito de ti meu amigo”, referiu. “Uma pequena correcção”, disse Jorge. “Como assim?”, perguntou João. “Disse que te pagava uma das viagens e não as duas”, gracejou Jorge.

“Antes de reservar a viagem, já tens ideia de quando queres ir?”, perguntou Jorge. “No próximo Sábado”, respondeu João. “E onde vais ficar? Vais à maluca ou tens um sítio que queiras reservar já?”, inquiriu Jorge. “Boa pergunta! Procura aí o site do Maldron Hotel. O que fica na Cardiff Lane. Se não for muito caro fico aí”, disse. “Já estiveste a fazer uma pesquisa? Com essa resposta pronta”, gracejou Jorge. “Nada disso. Conheço esse local. Está bem situado e o hotel é muito porreiro. Já lá fiquei uma noite. Achei piada porque foi o primeiro local onde vi uma máquina, parecida com aquelas de vending, onde deixavas o telemóvel à carga. Os quartos são porreiros e sou capaz de ficar lá uma semana”, explicou João. “Ok! Já fiz aqui uma simulação e só a estadia fica-te em pouco mais de 1200 euros. Queres reservar?”, perguntou Jorge. “Deixa-me fazer contas de cabeça”, respondeu João. Depois de alguns segundos em silêncio pegou na carteira. “Precisas do meu cartão de crédito para a reserva, não é? Vamos lá reservar isso”, afirmou com convicção, colocando o cartão em cima da mesa.

“Done! A reserva do hotel já está feita”, disse Jorge. “Desta já não te escapas”, gracejou. “Agora vamos ver as viagens”, acrescentou. “Vamos a isso”, referiu João. Os minutos foram passando e Jorge nada dizia, continuando atento ao computador. “Então? Não estás a encontrar nada?”, perguntou João, ansioso e nervoso com a possibilidade da viagem fugir do orçamento que ainda tinha disponível para a viagem. “Isto está complicado. Não encontro nada de jeito para as datas que queres”, referiu Jorge. “Não me digas isso que já fizemos a reserva do hotel e se cancelar perco o valor de uma noite”, disse João com um ar assustado. “Estou a gozar contigo. Já te comprei as viagens. Paguei as duas”, explicou Jorge. “Estás a gozar. Tinhas dito que pagavas uma. Não quero que pagues as duas”, insistiu João. “Mas já paguei. Posso dizer-te que ficou em cerca de 350 euros. E a tua amizade vale muito mas mesmo muito mais do que isto. A comparar com o bem que já me fizeste, isto são uns meros trocos. Por isso, se te vai dar para contas e merdas dessas, pensa primeiro no bem que já me fizeste e no apoio que me deste quando me divorciei. Sabes que não me esqueço das coisas”, explicou Jorge. João voltou a chorar, abraçando-se ao amigo depois de lhe dar dois beijos. “Tu és e serás sempre família. Estarei aqui sempre que precisares”, sussurrou-lhe ao ouvido.  Jorge apertou-o com mais força.

“Já está tudo resolvido. Resta-me desejar-te que a viagem sirva para que encontres o teu rumo. O rumo que mereces e que desejo para ti”, disse Jorge. “Antes de começares com esses discursos existe um problema para o qual também és a solução”, referiu João. “Mais um problema? Não chega? Quando começas a dar-me soluções?”, brincou Jorge. “Agora. Vou apresentar-te o problema e vou fazer de ti a solução. Ou melhor, a tua filha será a pessoa mais satisfeita com a solução”, disse João entre risos. “Não precisas de dizer mais nada. Queres que fique com o Bauer lá em casa durante a semana da tua viagem. É isso não é?”, perguntou. “Se não quiseres, não te obrigo a ficar com ele. Mas sei que a tua filha adora o Bauer. E assim tenho a certeza de que ele não ia estranhar em demasia a minha ausência. Mas volto a dizer-te, não te sintas obrigado a ficar com ele”, referiu João. “Claro que fico com o Bauer. Ela vai adorar. Só espero que ele não me estrague nada ou a estadia sai-te cara”, brincou Jorge. “Obrigado mais uma vez. Muito obrigado mesmo”, soltou João com emoção nas palavras.

“Como te estava a dizer antes de me interromperes com a conversa do Bauer, espero mesmo que esta viagem sirva para que encontres o teu rumo. Conheço-te o suficiente para acreditar que irás encontrar as respostas que procuras nesta viagem. Espero mesmo que...”, argumentou Jorge sendo interrompido pelo amigo. “Guarda essa conversa para depois que ainda me fazes chorar outra vez e já pareço um bebé chorão. Não me vou embora agora. Por isso dizes-me isso depois. Deixa-me antes pedir-te mais uma coisa, pode ser?”, perguntou João. “Mais? O que ainda queres de mim?”, disse Jorge. “Quero ir beber uns copos e brindar à nossa amizade. Pode ser?”, disse João. “Agora ou já?”, perguntou Jorge.

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